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Agregadores de pesquisa buscam contribuir com o debate eleitoral

Em meio a uma das mais conturbadas eleições presidenciais desde a redemocratização, dois jovens veículos trouxeram uma inovação para o cenário brasileiro. Com inspiração americana, ferramentas do JOTA e do Poder360 — no ar desde abril e julho, respectivamente — reúnem pesquisas eleitorais de diferentes institutos e traçam a linha de evolução de cada candidato ao longo da campanha.

agregador do JOTA é focado na eleição presidencial e, em sua primeira versão, leva em consideração apenas as pesquisas espontâneas — quando o entrevistado não é informado previamente quais os postulantes. “Quando lançamos o agregador em abril, ainda não sabíamos quem seriam os candidatos e optamos por não tentar fazer nenhum tipo de ajuste para agregar cenários em que os candidatos considerados são diferentes”, explica Guilherme Jardim, um dos responsáveis pelo projeto. Com o cenário definido, um agregador de pesquisas estimuladas será lançado pelo veículo em breve.

Segundo ele, a iniciativa do JOTA nasce em um contexto em que há novos institutos com novas metodologias e, paralelamente, alguns dos institutos mais tradicionais realizam menos pesquisas. “Toda essa quantidade de dados pode compor um grande ruído. A única forma de extrair sentido desse ruído é através de modelagem estatística”, aponta.

A ferramenta do Poder360, feita em parceria com a Google News Initiative e o Volt Data Lab, é mais ampla. Ela agrupa pesquisas para presidente, governos dos estados, prefeituras e Senado desde 2000, e leva em consideração todos os cenários de pesquisas estimuladas.

O agregador é um projeto antigo do diretor do veículo, Fernando Rodrigues, que desde 2000 compila e organiza pesquisas eleitorais em seu blog. “[Na ferramenta] tudo é visualizável, de acordo com o que o leitor queira comparar. É um serviço completamente aberto e gratuito, para acadêmicos, jornalistas e qualquer pessoa curiosa sobre as eleições recentes no Brasil”, aponta Mateus Netzel, editor-assistente do Poder que supervisionou a iniciativa.

Apesar de inovadores, os projetos não são inéditos. Desde 2014, o estatístico Neale Ahmed El-Dash agrega pesquisas do Brasil e de outros países no PollingData. El-Dash é doutor em estatística pelo Instituto de Matemática e Estatística da USP, e defendeu tese sobre a metodologia das pesquisas eleitorais brasileiras.

É a primeira vez, no entanto, que veículos de mídia investem em iniciativas do tipo. A inspiração vem sobretudo dos já tradicionais agregadores utilizados nas eleições americanas. Em um paper, o pesquisador da Princeton Election Consortium Sam Wang afirma que em 2008 havia pelo menos 45 pesquisadores agregando resultados nos EUA.

Dois exemplos são os americanos RealClearPolitics e FiveThirtyEight, inspirações do Poder360 para realizar o seu agregador. “O Poder e o Volt optaram por utilizar uma média móvel no período considerado para conseguir atenuar as diferenças entre metodologias e deixar a linha mais suave para uma visualização melhor”, explica Sérgio Spagnuolo, fundador do Volt Data Lab.

A ferramenta não tem o objetivo de acertar quem vencerá os pleitos: “Nós não temos a intenção de prever resultados ou indicar tendências futuras, e sim de mostrar o comportamento do desempenho do candidato nas pesquisas eleitorais, considerando diferentes cenários ao mesmo tempo”, ressalta Spagnuolo.

No caso do JOTA, o modelo se aproxima do criado pelos pesquisadores Simon Jackman e o Jeff Lewis no HuffPost Pollster. Para Jardim, esse é o mais adequado para o cenário brasileiro, já que o Brasil tem menos pesquisas do que os outros países.

O agregador do JOTA inclui alguns procedimentos estatísticos para traçar a linha dos candidatos. A quantidade de dias que faltam para as eleições, bem como o tamanho da amostra e o tempo em que a pesquisa foi realizada são alguns dos pontos que são levados em consideração. “Também vamos adicionar house effects, isto é, a tendência de cada instituto favorecer um candidato ou outro — não de maneira intencional, que fique claro. De acordo com a metodologia de cada instituto, algum estrato da população pode ser sobrerrepresentado, dando uma vantagem para algum candidato. Isso pode ser controlado de maneira estatística”, explica Jardim.

Para ele, apesar de o agregador do JOTA incluir esses procedimentos, ainda há um longo caminho a percorrer. “Nós ainda estamos muito aquém dos resultados obtidos pelos americanos, que incorporam muito mais conhecimento subjetivo em seus modelos”, aponta o cientista de dados.

Paralelamente à ferramenta, Jardim e o sócio do JOTA, Fernando Mello, têm publicado análises escritascom base no agregador. “Óbvio que o agregador não funciona por si só, nós estamos sempre fazendo análises escritas para o público. Acreditamos que analisar resultados eleitorais significa analisar suposições e entender por quais razões algo funciona ou não”, afirma.

Download dos dados

Os dados utilizados pelo agregador do JOTA estão disponíveis para download por qualquer interessado. “Trazer informações decorrentes de análise estatística vai ao encontro de uma das missões do JOTA, que é garantir maior transparência ao debate público”, diz o editor de dados do veículo.

A ferramenta do Poder360 também disponibiliza a íntegra do banco de dados para os leitores. “O Poder360 é defensor da política de dados abertos. Com a ajuda dos parceiros, as informações estão acessíveis de forma amigável para visualização e download. É um serviço que reforça a intenção do Poder360 de fornecer informações relevantes e de qualidade sobre a política e o poder no Brasil, para elevar o debate público”, afirma Mateus Netzel.

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