2016. Ano trágico para a imprensa: 1.200 demissões

Por Domingos Meirelles

A crise provocou o fechamento de emissoras de rádio, jornais, e a demissão de 1.200 profissionais em todo o país. Não há noticia de tragédia semelhante na história da imprensa brasileira. Afinal, o que está acontecendo com o jornalismo no Brasil?

Veja na reportagem de Edir Lima e Claudia Sanches como o ano de 2016 foi perverso para com os jornalistas e os veículos de comunicação.

O balanço da crise

O ano de 2016 foi dramático para imprensa brasileira. Os primeiros sinais da grave crise que se avizinhava foram registrados no primeiro semestre. A circulação dos cinco maiores jornais do País registrou uma queda de 8 a 15% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano anterior. Os números foram produzidos pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC), que mapeia edições impressas e digitais. Eram os primeiros sinais de uma tormenta que provocaria demissões em massa nas redações e a extinção de vários veículos de comunicação.

As empresas de comunicação foram duramente atingidas pelas crises política, econômica e pelo impacto das novas tecnologias. O site ABI Online registrou ao longo do ano o fechamento de cerca de 15 veículos, entre eles emissoras de rádio e TV e jornais impressos.

Duas emissoras de televisão, três rádios, um site de notícias e sete veículos impressos encerraram suas atividades, além de vários blogs. O impacto das tecnologias foi tão grande que publicações tradicionais abandonaram a veiculação em papel e migraram para o digital. Outros não suportaram essas transformações e encerraram definitivamente suas atividades, como o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, o mais antigo do país, fundado ainda no Império, em 1827.

Após circular ininterruptamente durante 189 anos, o JC anunciou em abril que não tinha mais condições de enfrentar a crise. A direção dos Diários Associados resolveu então fechar o jornal. A empresa deixou de produzir também a versão online do veículo e decretar o fim do impresso Diário Mercantil. Segundo a direção, 24 jornalistas ficaram desempregados.

Outra publicação tradicional do Rio, o jornal O Dia, que completou 65 anos em 2016, não teve motivos para comemorações. O jornal enfrentou uma sucessão de crises após várias mudanças gráficas e editoriais, além de desastradas negociações com diferentes grupos empresariais. Os diferentes comandos do jornal e o advento das mídias digitais reduziram drasticamente sua tiragem, com graves consequências sobre a vida da empresa.

A sucessão de crises levou, em 2016, à interrupção do pagamento de salários, décimo terceiro, férias, vale-transporte e suspensão dos planos de saúde dos funcionários. Grandes veículos como O Globo também foram atingidos pela crise. O grupo fez o que chamou de reestruturação interna e demitiu dezenas de profissionais das redações de O Extra e O Expresso. Muitos jornalistas tiveram alteradas suas condições de trabalho e passaram a servir a empresa como Pessoas Jurídicas (PJs).

Em São Paulo, segundo o Sindicato dos Jornalistas Profissionais, 581 profissionais foram demitidos, um pouco abaixo dos números de 2015, quando 726 foram dispensados, e acima de 2014, que  registrou mais 499 desempregados. Jornalistas da Rádio e TV Cultura que estão há três anos sem qualquer reajuste de salário entraram em greve. No último dia 15, cerca de 50 jornalistas da TV e Rádio Globo protestaram contra a falta de reajuste nos últimos dois anos.