Ao mesmo tempo em que crescem a ameaça e a influência política da disseminação das “fake news” na sociedade americana, grupos e organizações se mobilizam para enfrentar o problema. O objetivo é fazer com que o público consiga identificar com uma maior facilidade as informações que não são verdadeiras. Além das campanhas valorizando a verdade, que já estão em curso em grandes meios de comunicação, as frentes contra as “fake news” querem conscientizar a população sobre os riscos da disseminação de falsas notícias em todo o mundo. Inclusive no Brasil. A rede de TV britânica BBC, por exemplo, vai levar jornalistas a mil escolas do Reino Unido para ensinar alunos a identificar as notícias potencialmente falsas em blogs e redes sociais. Outra iniciativa é o Trust Project (Projeto Confiança). Ele é um consórcio internacional de organizações de notícias, que colaboram para criar padrões de transparência no jornalismo. O objetivo é construir uma imprensa mais confiável. Com base em pesquisas, o projeto criou um sistema de Indicadores de Confiança — ou seja, informações padronizadas sobre o noticiário, o jornalista e os compromissos por trás de uma história. A ideia é tornar mais fácil para o público identificar fontes confiáveis. Segundo um informe do Trust Project, “plataformas digitais, como Google, Facebook, Bing e Twitter podem usar os Indicadores de Confiança para divulgar notícias confiáveis para seus usuários”. — É emocionante porque esta é uma colaboração global em que vemos os meios de comunicação avançarem para responder à necessidade pública de notícias confiáveis — afirma Sally Lehrman, que dirige a iniciativa na Universidade de Santa Clara, na Califórnia. Para Ernest Sotomayor, professor e diretor da Iniciativa Latino-Americana da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, em Nova York, uma das ferramentas para a população é sempre desconfiar e tentar checar a fonte de onde vem uma informação lendo as notícias sobre o mesmo assunto publicadas por outros veículos: — A melhor proteção contra a prática de desinformar deliberadamente é ler amplamente, desconfiar de sites notoriamente suspeitos e buscar informação em um amplo espectro de meios de comunicação. Gene Policinski, diretor de operações do Newseum Institute, conta que sua entidade criou um programa de educação chamado “E.S.C.A.P.E.”. É baseado em seis conceitos, cujas iniciais em inglês dão nome à iniciativa. O primeiro conceito é o de prova (evidence, em inglês): qual a comprovação oferecida para os fatos relatados. O segundo é fonte (source, em inglês): quem são as fontes usadas e qual o seu grau de credibilidade. O terceiro é o contexto: em que ambiente se desenrola uma notícia. O quarto conceito, a audiência: qual é o público-alvo da notícia e quais táticas são usadas para atraí-lo. O quinto é o objetivo (de purpose, em inglês): por que um fato mereceu ser relatado. O sexto é a produção (de execution): como é apresentada uma informação e se ela parece tendenciosa ou incompleta. Presidente americano, Donald Trump. Grupos tentam combater a epidemia de ‘fake news’ (Imagem: Reprodução)
Apesar de queda global de assassinatos de jornalistas, relatórios mostram números recorde de jornalistas mortos
Por Teresa Mioli/AM Ainda que o número de jornalistas mortos por seu trabalho tenha diminuído globalmente em 2017, o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) destacou uma exceção: o México. No país norte-americano, “o número de jornalistas mortos por causa de suas reportagens atingiu um nível histórico”, afirmou a organização no relatório anual divulgado em 21 de dezembro. Na América Latina, Brasil e Colômbia também foram incluídos na lista de casos confirmados do CPJ, com um jornalista morto em cada país. Pelo menos 42 jornalistas em todo o mundo foram mortos “no exercício de suas funções” durante o período coberto pelo relatório, de 1 de janeiro a 15 de dezembro de 2017, de acordo com o CPJ. O número representou uma diminuição da contagem do ano passado: 48. Para o propósito deste relatório, o CPJ definiu “casos confirmados” como aqueles em que é certo que o assassinato do jornalista ocorreu como retaliação direta a seu trabalho jornalístico. O documento também inclui casos de jornalistas mortos “em fogo cruzado relacionado a combates”, bem como aqueles que morreram “enquanto realizam uma tarefa perigosa”. [Como será explicado mais tarde, as organizações de liberdade de expressão e liberdade de imprensa registraram diferentes números de jornalistas assassinados este ano com base em diferentes critérios. Continue lendo para mais detalhes.] O México foi o país mais letal para os jornalistas deste ano que não era uma zona de conflito, de acordo com o CPJ. O país foi classificado abaixo apenas do Iraque e da Síria na lista da organização. Pelo menos seis jornalistas foram mortos no país por causa de seu trabalho e a organização está investigando os casos de outros três jornalistas. “No México, dezenas de jornalistas foram assassinados desde que o CPJ começou a manter registros, mas é difícil determinar o motivo devido à falta de investigações confiáveis e ao alto nível de violência e corrupção”, afirmou o relatório. O jornalista Javier Valdez foi morto em Sinaloa, Mexico no dia 15 de maio de 2017. O CPJ confirmou os casos de Cecilio Pineda Birto, Miroslava Breach Velducea, Maximino Rodríguez Palacios, Javier Valdez Cardenas, Salvador Adame Pardo e Edgar Daniel Esqueda Castro. A organização destacou especialmente o assassinato de Javier Valdez Cárdenas, ocorrido no dia 15 de maio. O jornalista ganhou o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa 2011, concedida pela organização. A morte do reconhecido repórter do estado de Sinaloa provocou indignação mundial em relação ao ambiente violento em que muitos jornalistas mexicanos trabalham diariamente. Apesar das diversas manifestações e demandas ao promotor público por progresso no caso, a morte de Valdez ainda está impune e a violência contra jornalistas no país continua em ritmo recorde. Na Colômbia, a jornalista indígena María Efigenia Vásquez Astudillo foi morta no dia 8 de outubro no departamento do Cauca durante confrontos entre membros de Pueblo Kokonuko e agentes da Polícia Nacional. E o jornalista brasileiro Luís Gustavo da Silva, blogueiro de 25 anos, foi morto no dia 14 de junho em Aquiraz. O CPJ também registrou homicídios em que os motivos da morte não são claros, “mas é possível que um jornalista tenha sido morto em relação ao seu trabalho“. A organização continua investigando esses casos “não confirmados”. No México, esses casos incluem os dos jornalistas Ricardo Monlui Cabrera, Edwin Rivera Paz e Cándido Ríos Vázquez. Rivera Paz, um cinegrafista hondurenho, chegou ao México no início de 2017 depois que seu amigo e colega Igor Padilla Chávez foi morto em San Pedro Sula, Honduras, no dia 17 de janeiro deste ano. Padilla Chávez está na lista do CPJ de casos “não confirmados” em Honduras, juntamente com Víctor Yobani Fúnez Solís, Carlos Williams Flores e Carlos Oveniel Lara. E na República Dominicana, dois jornalistas foram mortos em um duplo homicídio brutal na FM 103.5. Luis Manuel Medina e Leónidas Martínez, locutor de rádio e diretor, respectivamente, foram mortos a tiros, enquanto Medina estava transmitindo o programa MIlenio Caliente na estação em San Pedro de Macorís. Luis Manuel Medina. Foto do Facebook Em muitos países latino-americanos, a tragédia não termina após a morte de um jornalista. Um índice divulgado pelo CPJ em outubro deste ano descobriu que o México e o Brasil estão entre os países do mundo com as maiores taxas de impunidade nos assassinatos de jornalistas. Advogados observam que, quando esses casos ficam impunes, isso garante que a violência contra a imprensa continuará. As organizações de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e International Press Institute (IPI) também divulgaram relatórios nesta semana sobre o número de jornalistas mortos no mundo. Cada organização relatou números diferentes de jornalistas mortos. No entanto, todos os grupos disseram que, apesar das reduções mundiais, o México continua a ser o mais mortal ou um dos lugares mais mortíferos para a imprensa. Pela contagem da RSF, 65 jornalistas foram mortos no mundo em 2017. A organização também notou uma diminuição do número do ano passado. A organização atribuiu a tendência descendente às campanhas para uma melhor proteção dos jornalistas, ao lobby de governos e entidades internacionais e aos “jornalistas abandonando países que se tornaram muito perigosos”. Em particular, a RSF disse que “muitos jornalistas fugiram para o exterior ou abandonaram o jornalismo no México, onde os cartéis criminosos e os políticos locais impuseram um reinado de terror”. Apesar disso, a organização informou que o México (11 jornalistas mortos, de acordo com o número da RSF) e a Síria (12) são os países mais mortíferos para jornalistas. “Na terra dos cartéis de drogas, os jornalistas que cobrem a corrupção política ou o crime organizado são quase sistematicamente atacados, ameaçados e muitas vezes mortos a tiros a sangue frio”, escreveu a RSF. O IPI informou que 82 jornalistas morreram em todo o mundo este ano, com 14 assassinatos apenas no México. No entanto, a organização só conseguiu vincular quatro dos assassinatos ao trabalho dos jornalistas. O país latino-americano é o primeiro na lista desta organização, acima do Iraque e da Síria. Além do México, IPI e RSF relataram assassinatos de jornalistas no Brasil, República Dominicana, Honduras e Colômbia. O IPI também está investigando os casos do jornalista Manuel Salvador Trujillo Villagrán na Guatemala e Julio César Moisés Mesco no Peru. Miroslava Breach (Facebook) “A região de América Latina e Caribe foi a mais mortal em 2017 para jornalistas. Mais de um quarto dos 82 jornalistas que morreram por motivos relacionados com seu trabalho perderam suas vidas lá”, escreveu o IPI. “Todos, exceto um dos 25 jornalistas que morreram na região, parecem
Ex-prefeito é condenado a pena de 39 anos pelos assassinatos do jornalista Pablo Medina e de sua assistente
Por Teresa Mioli/CA/AM Um tribunal paraguaio condenou um ex-prefeito com pena de 39 anos pelo assassinato em 2014 do correspondente regional do ABC Color Pablo Medina e sua assistente, Antonia Almada. Em 14 de dezembro, Vilmar Acosta Marques, ex-prefeito de Ypejhú, foi considerado culpado como instigador dos assassinatos, de acordo com a EFE. No dia 19 de dezembro, ele foi condenado a 29 anos de prisão e 10 anos de medidas de segurança. O promotor público havia solicitado 40 anos de pena, composta por 30 anos de prisão e 10 anos de medidas de segurança. Imagem do Sindicato de Periodistas de Paraguay (SPP). Os promotores acusaram Acosta, também conhecido como “Neneco”, de pedir a dois suspeitos que perpetrassem o assassinato, informou a EFE. Estes suspeitos são Wilson Acosta, irmão de Neneco, e Flavio Acosta, seu primo. Wilson Acosta está foragido e Flavio Acosta está preso no Brasil. O presidente do tribunal disse que as evidências mostraram que Vilmar Acosta havia ameaçado diversas vezes Medina, que continuou a denunciar o suposto envolvimento do ex-prefeito em atos ilegais, informou ABC Color. “O que ele estava buscando? Silêncio, silenciar a imprensa, porque Pablo Medina significou isso”, disse um promotor no caso, de acordo com ABC Color. “Pablo Medina estava trabalhando, ele era uma pessoa cujo trabalho era praticar jornalismo, e o silêncio era o que ele – Vilmar – buscava para que a opinião pública não conhecesse os crimes que ele cometeu, os diferentes crimes que eram investigados. “ ABC Color também informou que o advogado de Vilmar Acosta disse que a acusação baseou suas alegações em publicações jornalísticas. Em 16 de outubro de 2014, dois homens vestindo camuflagem interceptaram o carro de Medina nos arredores de Curuguaty enquanto ele retornava de uma viagem jornalística à comunidade indígena Ko’ê Porã. Eles dispararam contra Medina várias vezes. Almada também foi atingida e, eventualmente, morreu. Medina era ameaçado por causa de sua cobertura sobre o narcotráfico na região. Seu irmão de 27 anos, Salvador, também jornalista, foi assassinado em janeiro de 2001 na mesma área. Perto da fronteira brasileira, esta região do Paraguai é especialmente perigosa para jornalistas críticos devido à proeminência do narcotráfico. A EFE informou que, de acordo com os promotores, Medina afirmou que estava sendo seguido por mercenários a mando de Vilmar Acosta. Após os assassinatos de Pablo Medina e Almada, Acosta fugiu para o Brasil. Ele foi preso no Estado de Mato Grosso do Sul em março de 2015, mas sua extradição foi adiada porque ele afirmou ser um cidadão brasileiro. Em novembro daquele ano, o Brasil aprovou sua extradição. Esta não é a primeira condenação no caso. Em março de 2016, Arnaldo Cabrera, ex-motorista de Acosta, foi condenado a cinco anos de prisão por não ter comunicado o crime. No entanto, ele foi absolvido dos assassinatos de Medina e Almada. A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) pediu aos tribunais que deem a sentença máxima a Vilmar Acosta.