Jornalistas compartilham suas experiências com o uso de robôs no dia a dia Por Ruam Oliveira e Ana Paula Bimbati Fruto da demanda da própria redação, o Rui Barbot, robô criado pela equipe do JOTA, tem uma função bem específica: ele alerta quando um processo no Supremo Tribunal Federal (STF) fica parado por mais de 1 ano sem qualquer decisão do ministro responsável. Com o aviso, os jornalistas conseguem pensar em pautas e construir a notícia. Lançado em maio deste ano, o Rui é uma das iniciativas que trouxe maior praticidade aos repórteres do JOTA, segundo a sócia-fundadora e diretora da plataforma, Laura Diniz. Ela e a diretora da agência de checagem Aos Fatos, Tai Nalon, contaram suas experiências durante o painel “O uso de robôs no jornalismo”, mediada pelo repórter do Estadão Luiz Fernando Toledo. Além do Rui Barbot, o site conta com outras iniciativas como Lava JOTA, um buscador de termos e trechos específicos de processos da Operação Lava Jato. A plataforma conta também com um robô para uso interno que monitora a atividade de casas legislativas, tribunais e diários oficiais, e pode ser usado na busca por pautas. Basicamente, a programação desenvolvida pelo JOTA acessa sites e coleta novas informações sobre os processos e assuntos discutidos, enviando uma espécie de clipping diretamente para o e-mail da equipe. Neste momento, cabe aos editores e repórteres decidirem o que é a pauta, mantendo a função humana e social do jornalismo. Laura Diniz destaca que o importante não é o jornalista saber programar, mas entender a lógica da programação. Para ela, isso facilita no momento de pensar e desenvolver projetos. A sócia-fundadora ressalta que a diferença está em compreender os processos para “saber o que pedir ao programador”. O uso de tecnologia no jornalismo foi assunto recorrente na programação do congresso. A agência de checagem Aos Fatos também está desenvolvendo um robô que irá auxiliar na verificação de notícias. Chamada de Fátima, a primeira fase será um chatbot no Facebook, patrocinadora do projeto. O objetivo da robô é ensinar os usuários a fazerem suas próprias checagens caso desconfiem da veracidade da informação. A segunda etapa é a criação de um perfil no Twitter, que envia notificações aos usuários após compartilharem notícias falsas. A mensagem é acompanhada de um link que direciona para a checagem realizada pela agência. Assim como Laura, a diretora da Aos Fatos também não sabe programar. Para criar o robô, inicialmente, foi feito uma pesquisa, em parceria com o Volt Data Lab, para identificar como as pessoas consomem informações. Essa base de dados deu subsídio para que começassem a projetar a Fátima. Tai Nalon acrescenta que o robô nasceu da necessidade de expandir as formas de educar as pessoas no consumo da notícia. “Texto e checagem não são o suficiente para chegar em todo mundo que deveria”, diz. Tai Nalon(Aos Fatos) compôs a mesa ao lado de Laura Diniz(Jota). Foto: Alice Vergueiro O 13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi com o patrocínio de Google News Lab, Grupo Globo, Facebook Journalism Project, McDonald’s, Estadão, Folha de S.Paulo, Gol, Itaú, Nexo jornal, Twitter e UOL, e apoio da ABERT, ANJ, ANER, Comunique-se, BuzzFeed, Consulado dos Estados Unidos, ETCO, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Revista Piauí, Jornalistas & Cia., Knight Center for Journalism in the Americas, OBORÉ Projetos Especiais, Portal Imprensa, Textual e UNESCO. Desde sua 5ª edição, a cobertura oficial é realizada por estudantes do Repórter do Futuro, orientados por profissionais coordenadores do Projeto e diretores da Abraji.
Em ano de eleições, polarização abre espaço para notícias falsas nas redes sociais
Mesa discute sistemas de proliferação de fake news Por Samara Najjar Ambientes ultrapolarizados permitem a disseminação de notícias falsas. No período pré-eleitoral, a divulgação desse tipo de conteúdo se torna mais assídua em vias da possibilidade de descreditar a oposição e angariar votos. Na tarde do último dia do 13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, o jornalista Leonardo Sakamoto, da Repórter Brasil, e Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), comentaram os impactos desse fenômeno na sociedade durante a mesa “Ecossistemas da manipulação nas redes sociais em ano eleitoral”. Considera-se notícia falsa todas as publicações que viralizam nas redes sociais a partir de informações comprovadamente inverídicas. Segundo Pablo Ortellado, a diferença entre o boato e a fake news se dá no vetor que passa segurança a quem lê a matéria. “Enquanto no boato a credibilidade é respaldada por um testemunho, na notícia falsa o que confere a credibilidade é a suposta apuração jornalística, com a inserção do título, linha fina”, disse. Esse processo tem como consequência um ecossistema de desinformação, que pode ser resultado de uma manipulação ou incompreensão do leitor, de acordo com Leonardo Sakamoto. “Há casos de mentiras, enviesamento político e de fraude. Mas há também situações em que textos opinativos de jornalistas são entendidos como a única verdade” explica. A eficácia da disseminação desses conteúdos tem como condicionante a polarização do meio social. No Brasil, esse processo de maniqueísmo no âmbito político teve início após as manifestações de junho de 2013 e se tornou exorbitante depois das eleições presidenciais do ano de 2014. De acordo com Pablo Ortellado, grupos considerados de direita e de esquerda montaram redes de produção jornalística com o objetivo de influenciar a opinião pública conforme a sua orientação política. “Eles têm em comum o caráter partidário, porém as gêneses são diferentes. Na esquerda, a gênese é de jornalista, mais profissional, enquanto na de direita é cidadã, menos sofisticada, o que reflete a quantidade de erros. Para Sakamoto, não há uma solução a curto prazo para este cenário. “Organizações midiáticas e políticas solicitam mais transparência nas publicações, até porque não tem como governo diferenciar o que é uma notícia falsa ou não. Isso afetaria a liberdade de expressão dos jornalistas”, disse. Neste contexto, jornalistas que fazem a checagem de dados a fim de confirmar a veracidade dos conteúdos são afetados. Muitos deles não tem perfis pessoais expostos, publicações distorcidas ou descreditadas. “Minhas dicas para quem vai cobrir as eleições são: fechar o seu perfil para o público e fazer a limpa nas redes sociais”, disse. Em caso de ameaças, o jornalista recomenda ainda que seja feito um comunicado ao departamento jurídico de onde o repórter trabalha. Leonardo Sakamoto(Repórter Brasil) e Pablo Ortellado(USP) conduziram painel sobre redes sociais nas eleições. Foto: Alice Vergueiro O 13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi com o patrocínio de Google News Lab, Grupo Globo, Facebook Journalism Project, McDonald’s, Estadão, Folha de S.Paulo, Gol, Itaú, Nexo jornal, Twitter e UOL, e apoio da ABERT, ANJ, ANER, Comunique-se, BuzzFeed, Consulado dos Estados Unidos, ETCO, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Revista Piauí, Jornalistas & Cia., Knight Center for Journalism in the Americas, OBORÉ Projetos Especiais, Portal Imprensa, Textual e UNESCO. Desde sua 5ª edição, a cobertura oficial é realizada por estudantes do Repórter do Futuro, orientados por profissionais coordenadores do Projeto e diretores da Abraji.
Apoio a agência cresceu após fenômeno Trump, afirma editor-chefe da ProPublica
Stephen Engelberg defende que a colaboração é a chave para construir o jornalismo do futuro Por Daniela Arcanjo O editor-chefe de uma das mais respeitadas e inovadoras agências de jornalismo investigativo dos Estados Unidos encerrou o 13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji. Stephen Engelberg foi o entrevistado da mesa “A colaboração é o futuro do jornalismo”, que ocorreu este sábado e foi mediada pelos jornalistas Guilherme Amado, do ‘O Globo’, e Rosental Calmon Alves, do Knight Center. Fundada em 2007, a ProPublica é uma redação não lucrativa de jornalismo dedicada à investigação, dados e jornalismo de fôlego. Foi inicialmente financiada pelo casal de filantropos Herbert e Marion Sandler, mas hoje mais da metade da receita da organização vem de outras fontes. O jornalista conta que, em 2007, o casal percebeu algo acontecendo com o jornalismo por causa da popularização da internet: surgia um ambiente com menos dinheiro e mais competição. Eles resolveram, então, investir em uma outra forma de se fazer notícia, com mais investimento, liberdade e colaboração. Hoje, a cada U$ 1 colocado na agência, U$0,85 vai para o jornalismo. Por ser um site, há menos gastos que empresas tradicionais, como impressão e distribuição. Engelberg fala que foi perceptível o aumento de colaborações após a eleição de Trump, protagonizada por escândalos envolvendo as chamadas fake News e venda de dados em redes sociais. Hoje, o jornalista ressalta a importância da agência. Segundo ele, qualquer que seja o seu posicionamento na política, é essencial saber que o jornalismo é importante para a democracia. Engelberg afirma que isso está ficando mais claro para as pessoas com o passar do tempo. Hoje veículos como o ‘The New York Times’ e ‘The Washington Post’ publicam em parceria com a ProPublica. Essas colaborações, segundo Engelberg, são um modelo “ganha-ganha”, bem diferente da competição que se encontra entre a maioria dos veículos de comunicação. “Eu não imaginava que outras redações iriam querer publicar histórias como a da ProPublica”, conta ele. Mas foi o que aconteceu, com grande êxito: em 2010, ganhou junto com o ‘NY Times’ um Pulitzer pela reportagem The Deadly Choices at Memorial. Foi a primeira reportagem publicada originalmente em um veículo online a ganhar o prestigiado prêmio. A internet, segundo o editor, ajudou esse tipo de jornalismo por conectar pessoas que antes não estavam em contato. Colaboração Com bases de dados colaborativas, redação diversificada e investimentos consideráveis, a ProPublica representa, para o jornalista, um modelo que pode crescer no futuro. Um de seus projetos, em português, convida o leitor a dar a sua contribuição sobre os centros de detenção de crianças que foram separadas de seus pais após eles serem detidos ao entrar nos Estados Unidos. No primeiro parágrafo do texto lemos: “Precisamos de sua ajuda para obter informação sobre os locais de detenção e sobre as crianças que estão nelas”. A diversidade de formações entre os profissionais da redação e o tempo que eles dispõem para fazer a reportagem, para Engelberg, fazem toda a diferença na qualidade das apurações. “Antigamente você cobria uma história e, para isso, entrevistava cinco pessoas. Quando te perguntavam: ‘como você sabe disso?’ Você respondia: ‘eu conversei com cinco pessoas’. Hoje os leitores querem mais dados (…). Agora o trabalho é mais complicado e você precisa de mais pessoas”. Bem-humorado, finaliza: “é impossível ser feliz sozinho”, em português. Stephen Engelberg, editor-chefe da ProPublica comandou o principal painel do último dia de congresso. Foto: Alice Vergueiro O 13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e da Universidade Anhembi Morumbi com o patrocínio de Google News Lab, Grupo Globo, Facebook Journalism Project, McDonald´s, Estadão, Folha de S.Paulo, Gol, Itaú, Nexo jornal, Twitter e UOL, e apoio da ABERT, ANJ, ANER, Comunique-se, BuzzFeed, Consulado dos Estados Unidos, ETCO, FAAP, Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, Revista Piauí, Jornalistas & Cia., Knight Center for Journalism in the Americas, OBORÉ Projetos Especiais, Portal Imprensa, Textual e UNESCO. Desde sua 5ª edição, a cobertura oficial é realizada por estudantes do Repórter do Futuro, orientados por profissionais coordenadores do Projeto e diretores da Abraji.