Neste ano, o Congresso Internacional de Jornalismo investigativo traz a jornalista Jessica Best, chefe de operações da plataforma Blendle, para falar dos resultados que o site tem obtido e de seus aprendizados sobre o consumo de jornalismo nos dias de hoje. A sessão especial “Blendle: o iTunes do jornalismo” acontece na quinta-feira, dia 29 de junho, das 11h às 12h30.
Lançado em 2014, na Holanda, Blendle é uma plataforma que reúne e distribui notícias, colunas e artigos de veículos de comunicação do mundo inteiro. Inspirada em modelos como Netflix, iTunes e Spotify, foi pensada após seus criadores perceberem as dificuldades que o jornalismo digital vinha encontrando para engajar mais leitores, sobretudo por conta dos formatos pouco amigáveis de seus sistemas de assinaturas. “A missão do Blendle é simples: ajudar as pessoas a descobrirem o que há de melhor sendo feito no jornalismo, mas de uma maneira muito fácil, bonita e agradável”, diz Jessica. “E ele funciona para os dois lados da equação: os veículos com os quais temos parcerias são remunerados, e os leitores fazem pagamentos modestos e simples o suficiente para promover engajamento.”
Atualmente, além da Holanda, a plataforma tem bases na Alemanha e nos Estados Unidos e é parceira de veículos como The New York Times, The Washington Post e The Economist. Para ler os artigos, os leitores aderem a um sistema de “micropagamento”, e cedem 35 centavos de euro a cada texto (que podem ser reembolsáveis caso as matérias não correspondam às expectativas). Outra característica do Blendle é a personalização do conteúdo: conforme os usuários leem os textos pela plataforma, um corpo editorial de jornalistas indicam reportagens semelhantes. A equipe também faz a curadoria de quais textos devem, a princípio, entrar na plataforma ou não.
“Nós damos enfoque ao jornalismo de qualidade”, continua Jessica. Segundo a editora, os usuários do Blendle não têm interesse em ler notícias sobre o que está acontecendo, mas sobre o porquê de as coisas acontecerem como acontecem. Por esse motivo, em vez de trabalharem com notícias quentes, os jornalistas da plataforma buscam selecionar reportagens investigativas, analíticas ou, às vezes, até mesmo “de serviço”, que sejam úteis para os leitores. “Mas elas têm que ser boas. Uma descoberta de uma pesquisa que pode impactar nossa dieta não pode ser contada num ‘release’; ela tem que ser realmente excelente, científica, e explicar aos leitores o que eles devem entender”, diz Jessica.
A relação que a plataforma criou com os jornalistas a partir das parcerias – e, principalmente, a partir do padrão de qualidade que o Blendle estabeleceu – também são interessantes, afirma Jessica. Na Holanda, por exemplo, a plataforma criou o “Golden Pen Awards”, que premia a história mais popular do ano. “É uma métrica bem concreta para os jornalistas saberem quão bem está indo seu trabalho”, diz. “Nós criamos bastante competição entre os jornalistas pela qualidade”. Além disso, o fato de o Blendle ser uma plataforma feita para o jornalismo, ao contrário de redes sociais, tornou-se um elemento importante para que veículos digitais de jornalismo no geral pudessem repensar as melhores histórias para se investir – o Blendle é uma opção para gerar retorno financeiro.
Para a jornalista, o mais surpreendente é ver como os leitores, muitas vezes jovens – a maioria dos usuários do Blendle está abaixo dos 30 anos –, estão dispostos a pagar por esse tipo de jornalismo. Em fevereiro deste ano, a pedidos dos leitores, a versão holandesa da plataforma chegou a lançar inclusive o “Blendle Premium”, modelo de inscrição para quem gosta de ler mais: pelo valor de 10 euros por mês, os usuários têm acesso a 20 textos por dia. Os artigos são selecionados de modo personalizado para cada leitor, e o corpo editorial da plataforma ainda recomenda os “must-reads” – textos que não estão no seu campo de interesses, mas ainda assim são recomendados. “Ainda estamos vendo como os usuários estão reagindo ao novo modelo de inscrição”, diz Jessica, “mas esse era um pedido de muitos”.
“Sempre descrevem o Blendle como o ‘iTunes do jornalismo’, o ‘Spotity do jornalismo’. Para mim, na verdade, às vezes é como se ele fosse um laboratório de jornalismo”, pontua. “Estamos ouvindo os usuários, conversando com as pessoas, os dois lados da equação. Isso é que é interessante.”
O 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo acontece de 29 de junho a 1º de julho na Universidade Anhembi Morumbi, unidade Vila Olímpia, em São Paulo. Com mais de 60 painéis e oficinas, o evento dura das 9h às 17h30 nos três dias. As inscrições estão abertas até 26 de junho e podem ser feitas em congresso.abraji.org.br.
Serviço
12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo
Universidade Anhembi Morumbi
Rua Casa do Ator, 275, Vila Olímpia – São Paulo, SP
29 e 30 de junho e 1º de julho de 2017
Inscrições até 26 de junho em congresso.abraji.org.br