A idiossincrasia de Maria ! Rosildo Barcellos


A alforria se conquista com o ganho E o balaio é do tamanho do suor do seu amor Mainha, esses velhos areais Onde nossas ancestrais acordavam as manhãs Pra luta sentem cheiro de angelim E a doçura do quindim Da bica de Itapuã Nas escadas da fé É a voz da mulher!”

 Disputado décimo a décimo, como é nosso cotidiano, pois muitos de nós juntamos moeda a moeda para adquirir o pão, o título de escola campeã do Carnaval do Rio de Janeiro em 2020, ficou com a Unidos do Viradouro, que levou para a Marquês de Sapucaí o enredo “Viradouro de alma lavada”. A escola de Niterói contou a história das Ganhadeiras de Itapuã, quinta geração de lavadoras de roupa na Lagoa do Abaeté.

   Com influência do afoxé, ritmo baiano de matriz africana, nos batuques e na melodia, o samba colocou holofotes nas mulheres escravizadas  que, no século XIX vendiam comida e lavavam roupas na lagoa do Abaeté e, com o dinheiro arrecadado compravam suas alforrias. A história nas areias da praia de Itapuã é antiga e várias gerações de ganhadeiras já passaram por lá, enquanto a bica de Itapuã era o principal ponto de encontro das ganhadeiras. No caminho até lá, se misturavam o cheiro das quitandas com o odor forte das árvores de angelim, um tipo de madeira da Floresta Amazônica muito usada na fabricação de móveis.

   O samba também traz a luz ao Candomblé e a Umbanda, quando trata de Oxum é a orixá do amor, da ternura e da riqueza. Ela também é a rainha da água doce, dos rios e cachoeiras, por isso a música começa se referindo a ela antes de citar a Lagoa do Abaeté. “Ora ô oxum” é um cumprimento que significa olha por nós, mãezinha

   Muitas mulheres, e seus feitos, não foram consagradasna história; contudo, algumas de suas histórias são dignas de nota e felizmente muitas músicas e em especial o samba enredo da Viradouro 2020, capitaneado pelo nota dez: Mestre Ciça, faz essa consagração talvez às primeiras “feministas” brasileiras. Aproveitando o ensejo, da semana da mulher, quero nominar como outro exemplo:Maria Francisca da Conceição, natural de Pajeú das Flores, Pernambuco. Lutou na Guerra da Tríplice Aliança. Maria acompanhou seu esposo, que foi convocado para a Guerra. Para participar da expedição, cortou os cabelos, vestiu um uniforme do esposo – um cabo de esquadra do Corpo de Pantaneiros do Exército – e instalou-se nas fileiras na hora do embarque. Em luta, tomou as armas, cinturão e cartucheira de um soldado morto e avançou com a artilharia, derrubando vários soldados, mesmo depois de ver o marido ser morto, até ser ferida por um soldado paraguaio. Ela sobreviveu aos ferimentos e, pelos seus feitos, foi apelidada de Maria Curupaiti.

   E em nome do resgate histórico que eu tenho feito ao longo desses meus 1322 artigos, posso afirmar que a exemplo de minha própria mãe, as mulheres, com responsabilidade, ternura e sensibilidade  continuam a se adaptar às mudanças do mercado, ajudando resolver problemas que nos afligem. A gestão do tempo e a disciplina que a mulher tem fazem a diferença, na lagoa de Itapuã, na Guerra do Paraguai ou em nossa própria casa, nos aguardando, nos alimentando, nos incentivando ou simplesmente rezando ou orando por nós. É crucial. A mulher tem por habilidade natural pensar em várias coisas. A cada dia se reinventa e por isso essa parceria Mãe/Filho e posteriormente: Homem /Mulher e Pai/Filha;são primordiais num mundo como o nosso e a elas, nossas “ Estrelas Dalva,” o nosso agradecimento, pois sem essainspiração divina, nem escritor eu seria !

*Articulista – Rosildo Barcelos