Na centenária história da Associação Brasileira de Imprensa – ABI jamais ocorreu isso. A diretoria encabeçada por Paulo Jeronimo de Sousa, o Pagê (presidente) e Cid Benjamin (vice) conquistou o direito de comandar a entidade no triênio 2019/2022 em duas votações. Em ambas obteve a aprovação de maioria expressiva dos associados.
No tumultuado processo eleitoral que a ABI vivenciou neste ano, duas votações foram realizadas. A primeira, em 16 de maio, teve a urna lacrada por decisão do desembargador Marcelo Lima Buhatem. Ele atendeu, inexplicavelmente, um recurso interposto por Domingos Meirelles, cujo mandato à frente da instituição expirara dias antes de seus correlegionários impetrarem o pedido na justiça.
Com isso Meirelles quis ganhar tempo para tentar conseguir votos que jamais conquistaria, tal seu afastamento da categoria. Ele percebeu a mobilização da oposição, através da Chapa2 – ABI: Luta Pela Democracia. Mobilização que se confirmou agora, após Buhatem ter extinto o processo por desistência dos autores. Só desistiram após a segunda votação em 27 de junho. Com a decisão do desembargador, a urna lacrada pode ser aberta e seus votos revelados.
A contagem desses votos ocorreu na segunda-feira (19/08), comandada pelo presidente da Assembleia Geral que deu início ao processo eleitoral, no dia 25 de abril, Fichel Davit Chargel, hoje presidente do Conselho Deliberativo da ABI. Participaram da apuração desses votos o diretor Financeiro, Marcus Miranda, Rogério Marques, integrante da Comissão Eleitoral, e o conselheiro Paulo Marinho.
Na urna estavam depositados 256 votos. Destes, 180 (70,31%) foram dados à Chapa2. A Chapa3 – Barbosa Lima Sobrinho, que tinha à frente Carlos Augusto Martins de Aguiar, recebeu 58 votos (22.6%), enquanto a Chapa1 – ABI Para Todos, de Meirelles, que boicotou aquele pleito já pensando em judicializar o processo eleitoral, contou com o apoio de apenas 17 associados.
Entre a eleição de maio e a nova votação em 27 de junho, em outro momento a oposição à diretoria de Meirelles deu mais uma demonstração de força. Foi quando, em 13 de junho, um grupo de associados que apoiavam a Chapa2 – ABI: Luta Pela Democracia apresentou ao então presidente do Conselho Deliberativo da ABI, Luiz Carlos Azedo, um baixo assinado com 164 assinaturas de associados em dia com suas mensalidades. Reivindicavam a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária para que os sócios da Casa do Jornalista decidissem, democraticamente, o futuro da entidade.
O pedido, de forma arbitrária, foi totalmente desprezado pelo presidente do CD. Mas ele deixou patente que a grande maioria dos eleitores aptos ao voto já tinham se posicionado com a Chapa2 – ABI: Luta Pela Democracia.
A mobilização da oposição a Meirelles ficou demonstrada também no número de associados aptos a votar nas eleições. Em março, a lista contava com apenas 207 associados em dia com suas mensalidades. Em 16 de maio o chamado colégio eleitoral chegou a 290 associados e, no final, em 27 de junho, totalizou cerca de 410 eleitores, dos quais 386 compareceram à urna física, na sede da ABI (202 associados) ou participaram através do voto pelo site da entidade (184 associados).
Nesta eleição de 27 de junho, a vitória da oposição foi confirmada com a Chapa2 – ABI: Luta pela Democraciaconquistando a preferência 57,25% dos eleitores, com 221 votos. Já a Chapa1, encabeçada por Meirelles, contou com somente 93 votos enquanto que a Chapa3, já com nova composição em que Washington Machado aparecia como presidente, obteve 68 votos.
Charge de Paulo Caruso
Na mesma segunda-feira, os conselheiros da ABI Norma Couri e Ricardo de Carvalho – este, eleito também como diretor da ABI em São Paulo – entregaram a Paulo Jeronimo o original da caricatura desenhada por Paulo Caruso retratando a Chapa2 – ABI: Luta Pela Democracia. A ilustração – feita no início da campanha eleitoral – foi encaminhada por Caruso para a diretoria da ABI no show que ele , o irmão, Chico Caruso e o também cartunista Renato Aroeira apresentaram no domingo no Clube Marimbás, em Copacabana.
Norma Couri e Vera Perfeito, também conselheira da ABI e futura responsável pela diretoria de Mulheres e Diversidade, a ser criada no novo estatuto da Associação, estiveram lá. É de Norma, o relato abaixo sobre o show dos três chargistas/cartunistas:
Os Impossíveis Irmãos Caruso
Norma Couri
O show memorável dos irmãos Caruso no domingo (18/08) no Marimbás não evitou que sócios do clube, em maioria apoiadores de Bolsonaro, ensaiassem uma reação afinal contida pelo curador Carlos Vergara.
Chico e Paulo nem imitaram tanto assim Bolsonaro, mas já prepararam números para o próximo show dia 6 de dezembro, em São Paulo, quando juntos os gêmeos, paulistas de nascimento, completam 140 anos—70 cada— e 104 de profissão, 52 cada.
No show de domingo Paulo Caruso fez a entrega oficial da charge da vitória da Chapa2 – ABI: Luta pela Democraciapara Vera Perfeito, Norma Couri, e a associada Zezé Sack.
O Marimbás, no Posto 6 de Copacabana, fica ao lado do quartel do Exército e da Colônia de Pescadores mais tradicionais da famosa praia carioca. A data da apresentação tem todo um significado sentimental para os irmãos gêmeos: homenageava o avô Francisco Espanha que faria 116 anos, e foi quem ensinou os dois a cantar.
Com um pente colocado ora em forma de bigode, ora ajudando no topete, Chico imitou Sarney, Collor, FHC, Itamar, e fez a plateia, lotada de jornalistas, artistas gráficos, atores e músicos, estourar de rir.
Entre atores, Paulo Betti, Dadá Coelho e Henry Pagnoncelli; músicos, Wagner Tiso, Osmar Milito, Tunai; artistas gráficos, Miguel Paiva, Jaguar, Rubens Grilo, Bruno Liberatti; jornalistas, Sérgio Augusto, Martha Alencar, Ruth de Aquino, Cristina Ajuz, Marina Caruso e os representantes da ABI.
Chico só soube que seu psicanalista havia estado lá quando recebeu seu bilhetinho discreto muito depois do show.
Junto com Sérgio Magalhães, Aroeira fez o fundo musical e integrou a Mostra de Charges — 20 de cada um— do show “Paulo e Chico Caruso & Aroeira-Quadro a Quadro”, estas, sim, dando motivos para a reação dos sócios do Marimbás.
Se neste show os irmãos se saíram com “depois de Lula frito engoliram o Bolsonaro”, para São Paulo estão preparando mais acidez como “Bolsonaro avisou: fazer política é que nem fazer coco”.