Fundador do Portal Educação, uma das maiores empresas de Educação a Distância do mundo, integrante do Grupo Endeavor de empreendedores de alto impacto, presente em mais de 65 países, e Guardião dos Objetivos do Milênio do PNUD/ONU, Ricardo Nantes é um dos maiores exemplos de empreendedorismo de Mato Grosso do Sul. Com um olhar focado no futuro, ele conta ao Jornal Midiamax como vê o mundo daqui 10, 15, 20 anos e afirma que muitas profissões vão acabar e quem quiser se manter no mercado terá que se reinventar e estar atento às nova tecnologias.
Ricardo a gente está em um momento de crise, como você avalia a situação do país?
A gente vem de um momento de desafio, principalmente em relação à crise política, de gestão e de liderança que está respingando nas pessoas. Mas eu vejo da seguinte maneira: isso vai provocar uma mudança e tirar pessoas essa visão de assistencialismo que a gente tinha, culturalmente na nossa nação. O Brasil vive essa questão de você ter dinheiro ser ruim. Em novelas o empresário é mal visto, bandido, enfim… Quando na verdade não é isso. O que sustenta o país são as empresas, são os negócios, onde recolhem os impostos e o governo consegue manter sua estrutura, com os impostos pago por empresas e empreendedores.
Você acredita que as mudanças que vemos hoje se devem a forma de se ter acesso às informações, que também se modificaram?
A gente tá vivendo essa questão política, de corrupção, que está tendo uma mudança radical, algo que a gente não veria a algum tempo atrás. Até porque a informação era muito restrita. Hoje está mais fácil de se divulgar e de se fazer. O mundo está muito informatizado, tem muita informação disponível. Antigamente se você quisesse ter acesso a informação tinha que comprar o jornal, tinha que ir atrás de revista, tinha que ir à biblioteca buscar um livro. Hoje não é assim. Hoje pessoas com baixo poder aquisitivo tem um smartphone e podem fazer essa pesquisa. As pessoas que queiram, conseguem buscar aplicativos, notícias, jornais…E as pessoas estão se revoltando, estão querendo buscar seus direitos. Essa mudança na questão política, que mexe na estrutura de como o país vai ser governado nos próximos anos e nesse ponto acho muito positivo.
Você então acredita que a crise pode ser vista de forma boa?
A crise sempre faz você rever os negócios. Faz você pensar de novo e ver oportunidade onde não tinha, faz pensar em inovação. E isso é bom porque nos dois pontos você trabalha muito a questão da meritocracia. Tirar essa visão de população que pensa em assistencialismo e vai para o merecimento. Que a gente sabe que é o que funciona, o que dá certo. A questão da crise é muito a questão de criação, de inovação, é você pensar fora da caixa. É você tirar de onde não tem e colocar onde não cabe. Onde tem muito problema, tem muita oportunidade de negócio. O Brasil está cheio de problema, problema não, vou mudar a palavra, está cheio de desafios que a gente tem que enfrentar para crescer como país. Onde tem desafio tem oportunidade. Isso é fato. Eu comecei um negócio de internet quando a internet era discada, mas eu sabia que ia mudar. As pessoas tem que tentar fazer essa leitura e para isso tem que estar informado, e não só na sua área. Conversar com gente que você admira, que te inspira, que vê o que está acontecendo.
Essa mudança, esse pensar fora da caixa, pode trazer soluções para os negócios?
Temos muito empreendedorismo por necessidade. Mas antes de começar a investir em um negócio é preciso saber qual é o teu propósito, de primeiro, o de vida, depois, o do negócio. Os dois estão alinhados. Segundo ponto, você tem que começar a administrar seu tempo. Se você administrar seu tempo e saber planejar exatamente o que você quer, você consegue trabalhar com pessoas que podem te ajudar com aquilo que você queira. Mas você tem que ter um nicho. O que é isso? Se tem um monte de gente abrindo pizzarias, ai tem uma tia que não conhece nada e fica …Ah investe em pizzaria, investe em pizzaria. Ai você acredita e vai. O que quero dizer, se você tem dúvida de marcenaria, você vai perguntar para o marceneiro. Jurídica vai conversar com o advogado. Quer abrir um negócio começa a ouvir pessoas que abriram o negócio e deram certo. A gente vê que falta muito essa expertise das pessoas em pensar maneiras novas de fazer, até mesmo um negocio antigo que ela tinha, que ela tem. Vou citar uma das empresas que estou, o Território do Vinho. A gente tem revisto processos, forma de marketing, formas de divulgação, abrir na hora do almoço, nos fins de semana, controlando o ambiente, renovando a base dos clientes, mapeando quem está indo lá, tentar abrir outros dados… O sucesso do negócio é estar o tempo todo se refazendo, se pesquisando, se auditando. Investindo em gente. Investir em gente custa barato. Você pagando uma salário bom se a pessoa é boa ela traz um resultado bom para o seu negócio. E você sozinho chega uma hora que não consegue. Você tem que delegar, ela tem que ter confiança em você e você nela. Por isso a politica da meritocracia é o que funciona hoje.
Como você acredita que vão ser as profissões daqui 10, 15, 20 anos?
Daqui 10/ 15 anos o que temos hoje vai ser outra coisa. Inteligência artificial, por exemplo, tudo que puder ser automatizado vai ser robatizado. As carreiras vão ser refeitas, você vai refazer sua carreira uma, duas, três, quatro, 15 vezes. Cada profissional liberal vai ser um empreendedor de si mesmo. Você como jornalista vai ter que saber mexer com mídias sociais, com aplicativos que possam auxiliar na dinâmica e no processo do dia a dia. Coisas que a universidade não ensinou. Você aprende no dia a dia. E a universidade não vai conseguir acompanhar isso. Como é que você vai se ressignificar cada dia mais para atender um mercado de trabalho que está mudando? E quando a gente pensa em mudança a nossa visão é linear. E o conhecimento é exponencial.
Que empresas você citaria que deram certo ao ressignificarem o que já existia?
A Uber, que tem pouco mais de três anos e vale mais que a Petrobras. A Airnnb hotéis, não tem um hotel sequer, e está avaliada em quase U$ 30 bilhões. Repensar formas antigas de trabalho, de serviço e quem diz que isso que vai dar certo não é a universidade, o professor, é o mercado. E testar produto de mercado hoje é fácil. Com pouco recurso, a partir de R$ 30, R$ 50 você consegue testar um produto no facebook e ter uma ideia de quando você consegue fazer uma venda, com investimento baixo. Você tem que ir onde o mercado vai.
Quais trabalhos você acredita que vão desaparecer do mercado?
A robótica está em uma fase muito inicial ainda, mas tudo que for automatizado vai ser robotizado. Inteligência artificial, você pega Siri, Watson (do Android), muitas coisas que você fala ele já identifica. Ele está em uma fase bem inicial. E o que vai fazer com uma empresa de call center? O algoritmo de entendimentos vai estar entendendo até piadas… O primeiro emprego hoje, da maioria das pessoas, é o call center. Emprega milhares de pessoas em todo o Brasil. A gente vai chegar em um nível que isso vai ser totalmente automatizado pela inteligência artificial. 50% das profissões como é hoje vão deixar de existir nos próximos 10, 15 anos. As profissões do futuro vão estar vinculadas a soluções que não podem ser robotizadas. Para assumir papéis de network, de gestão… Essas funções que não podem ser robotizadas vão ter destaque.
Profissões tradicionais como a medicina vão se manter?
A estrutura de fazer a cirurgia, a consulta, a IBM já mapeou tudo. E o software deles já acerta mais que um médico, pessoa física. Então os médicos vão ter um problema sério. A biotecnologia também vai estar forte, então eles vão ter outro problema. O corpo vai identificar com horas, dias antes que vai ficar doente e já vai indicar especifico o que tomar e na dose certa, conforme o seu DNA. Antes se gastava milhões para se fazer um DNA, hoje com U$60, U$70 se faz o mapeamento genético. Ainda na fase embrionária, mas vai se chegar a um ponto de identificar que daqui a x anos vai se desenvolver, sei lá, um câncer de próstata e que deve começar a tratar de tal maneira. Então isso vai ser cada vez mais personalizado, com medicamento personalizado. Aquela cena de Star Wars que corta a mão do cara e quem implanta é um robô, que no final a lógica é a mesma, mas número de você ter um erro, com uma máquina vai ser bem menor. Na verdade já existe hoje, mas está sendo colocado aos poucos.
Para você como deve ser a participação do governo neste processo?
O governo tem que fomentar negócio. Dar estrutura, fazer a máquina rodar. Tirar burocracia e criar políticas públicas para correr solto e deixar o mercado correr atrás. Por que tem concessão de táxis hoje em Campo Grande? Libera isso, deixa o negócio se regulamentar. No final, os melhores vão ficar e os outros que não deram certo vão sair. Livre concorrência. Transporte público mesma coisa. Essa briga de Uber que acontece no Brasil, isso ai não adianta. Eles estão oferecendo um serviço melhor e as pessoas preferem usar o Uber. Agora para complicar ainda, os caras estão brigando com que está usando o serviço. Estão pedindo para o processo acelerar mais ainda.
Para fechar qual a palavra-chave do futuro?
A palavra chave do futuro vai ser resiliência. Você vai ter que se refazer constantemente para se adaptar aos novos tempos de mudanças. Então as pessoas tem que estar de olho nisso. Só que a maioria fica travado em conceitos de mudanças, de não saber direito administrar o tempo dela, perde-se tempo com bobagens e no fundo, no fundo, nossa vida é de tempo. A família, o pessoal, o profissional e como vai dividir cada uma delas é fundamental. Provavelmente o teu hobby, aquilo que você faz para relaxar é problema teu, mas a tua parte profissional você tem que estar se reinventando toda hora.
Workshop
A Associação Empresarial de Jardim (AEJAR) realiza workshop Empreender Mais com o tema “tendências e novos negócios” em Jardim, região sudoeste do Mato Grosso do Sul.
O workshop acontecerá nesta quinta-feira, dia 7 de abril, as 19h no Auditório da UEMS – Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, com ingresso solidário, um kilo de aliment
o não perecível.
Entre os palestrantes estarão Ricardo Nantes, fundador do Portal Educação, Endeavor, Anjos do Brasil e ODS-ONU e Marcos Silva, administrador, SEJUV, CJE e ONU, Movimento Jovem Empreendedor.