Os jornalistas precisaram fazer malabarismos durante a cobertura das manifestações de 7 de Setembro em favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em meio a denúncias de agressões, alguns preferiram se “fantasiar” para se aproximar ainda mais dos fatos.
Foi o caso de Guga Noblat. De camiseta da seleção brasileira e uma máscara defendendo o presidente, ele foi às ruas em Brasília e registrou um grupo discutindo se iria ou não invadir a Praça dos Três Poderes.
Crédito: Isac Nóbrega/PR

Nos cartazes dos manifestantes, palavras de ordem contra o STF e contra as vacinas
Ele acompanhou também a reação dos apoiadores durante o discurso de Bolsonaro. “No momento em que Bolsonaro mandou Fux enquadrar ministros do STF, a reação dos bolsonaristas no DF foi gritar em coro: ‘Fora, Alexandre’!”, relatou.
Em outro ponto da manifestação, na Esplanada dos Ministérios, os jornalistas foram hostilizados e expulsos. Segundo relato dos profissionais do site Metrópoles, que também tiveram que deixar o local sob ameaças, duas equipes com cinegrafistas sem identificação de qualquer empresa foram cercadas e empurradas. A suspeita do grupo era de que se tratava de profissionais da TV Globo.
Os manifestantes jogaram água nos equipamentos, e a PM precisou intervir para salver uma das equipes. A outra precisou correr dos militantes.
Um outro cinegrafista que estava posicionado próximo ao prédio do Ministério da Saúde também foi cercado. Os bolsonaristas tentaram derrubá-lo no espelho d’água do Ministério das Relações Exteriores, sem sucesso. Quem registrou a agressão, também foi perseguido.
Em São Paulo, Maicon Mendes, da Jovem Pan, relatou ter sido alvo de manifestantes na Avenida Paulista. Pelo Twitter, disse que ele e seu cinegrafista foram agredidos com pedras, garrafas d’água, e foram seguidos.
“Agora há pouco, eu e meu Cinegrafista João Cagnin fomos hostilizados na Av. Paulista pelos apoiadores do Presidente Jair Bolsonaro, durante a cobertura de 7 de Setembro. Jogaram água, pedras e alguns partiram pra cima pra agressão. São leões quando a polícia está longe”, escreveu.
“A gente não pode trabalhar. Esse é o trabalhos que tentamos mostrar e ninguém vê”, narrou em um vídeo, enquanto os manifestantes eram contidos por uma barreira policial, gritando palavras de ordem. “Isso é um ato criminoso”, escreveu, em outro post.
As agressões começaram quando ele se preparava para uma passagem informando o número aproximado de participantes do ato. Apesar da expectativa dos organizadores de levar cerca de 2 milhões à Paulista, e Polícia Militar estimou, em nota divulgada no fim da tarde de ontem, que apenas 125 mil pessoas estavam presentes.
Os repórteres Amanda Rossi, Ana Paula Bimbati e Leonardo Martins, do UOL, entrevistaram um participante do ato que carregava um cartaz com o texto em inglês e espanhol: “Lula, o diabo. Eu quero ler as manchetes com a sua morte. Morra logo”. Questionado sobre o pedido de “morte”, ele respondeu: “Porque todo esquerdista tem que morrer. Você é jornalista? UOL é da Foice de São Paulo. Todo esquerdista tem que morrer”.
Os profissionais também sofreram intimidação por parte de um familiar de duas senhoras de 80 e 81 anos, que concediam entrevista para o veículo. “O que você vai distorcer”, afirmou o homem não identificado.