Testemunha viva da história, tendo atravessado as mais diferentes fases política e econômica do País, cumprindo o seu papel de manter informada a sociedade brasileira e fomentar o progresso, o Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, órgão dos Diários Associados, o mais antigo periódico da América Latina, depois de 189 anos de circulação ininterrupta, encerra as suas atividades nesta sexta-feira, dia 29 de abril. Fundado pelo francês Pierre Plancher, no dia 1º de outubro de 1827, o jornal surgiu tendo como foco a ainda insipiente economia nacional, mas em pouco tempo transformou-se em folha política e comercial, em um momento em que a situação do País, que vivia então os primeiros anos após a Independência, era inquietante.
Pedro I, pressionado pelos portugueses, ia fazendo concessões que poderiam prejudicar os brasileiros e o Jornal do Commercio entrou em campo para defender os interesses nacionais, uma característica que preservou ao longo de sua história. Por suas primeiras páginas passaram-se mais de meio século de anúncios, os mais bizarros e exóticos, desde notícias sobre compra e venda de negros e negras escravas até subliminares mensagens de amor e propagandas de espetáculos teatrais e circenses.
Pierre Plancher, antes de chegar ao Brasil, foi em Paris conceituado editor de Voltaire, de Benjamin Constant de Rebecque e de outros renomados intelectuais. Também se destacava na França como um mestre das artes gráficas. Por não se enquadrar no regime então vigente e perseguido por suas tendências liberais na época da Restauração, sob Luiz XVIII, teve de emigrar.
Chegou ao Brasil em 1824 e aqui instalou prontamente sua oficina. Trouxe com ele modernos equipamentos e alguns operários especializados que representavam, na época, o que de mais avançado existia no ramo gráfico e completamente desconhecido por aqui. Fundou antes do Jornal do Commercio o Spectador Brasileiro, que circulou até o dia 23 de maio de 1827. Plancher retornou a Paris quando mudou o regime francês e teve como sucessores na sua direção os franceses Junius Villeneuve, Francisco Picot e Julio de Villeneuve, que mantiveram o importante diário até 1890.
Durante este período eram colaboradores, entre outros intelectuais, Justiniano José da Rocha, José Maria da Silva Paranhos, o visconde do Rio Branco, Carlos de Laet, Francisco Octaviano, José de Alencar, Homem de Mello, Joaquim Nabuco e Guerra Junqueiro, entre outros intelectuais. O próprio Pedro II escrevia sob pseudônimo no jornal e influía em seus editoriais, a ponto de um destes ter causado a queda do seu ministério.
Os Diários Associados deixarão de produzir também a versão online do veículo, assim como não levarão mais às bancas o impresso Diário Mercantil. O encerramento de atividades do Jornal do Commercio causará a dispensa de 24 profissionais da redação, de um total de aproximadamente 300 funcionários que atuam no grupo, entre as áreas comercial, recursos humanos e tecnologia. Ainda não se sabe se a empresa manterá o parque gráfico, sediado em São Cristóvão, para produzir conteúdo de terceiros.
Com relação às Rádios Tupi AM e FM, do mesmo grupo, ainda não se sabe se continuarão no ar, já que a Rádio Nativa FM foi desativada em dezembro do ano passado. O diretor-presidente, Maurício Dinepi, revela que o motivo do fechamento é a atual crise do setor. “Não aguentamos mais. Não há anunciante”, disse, em contato com o colunista Lauro Jardim, de O Globo.
Paula Máiran, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, lamentou o fechamento do Jornal do Commercio mas revelou que esse processo já estava instalado nos Diários Associados há mais de dois anos, quando os trabalhadores passaram a deixar de receber salários, FGTS, 13º e outros benefícios em dia. Afirmou que a entidade continuará ao lado dos funcionários para fazer valer as obrigações trabalhistas da empresa, junto ao Ministério do Trabalho.
“O encerramento de vários jornais tradicionais da mídia do Rio de Janeiro não é somente o reflexo da crise no setor. Mais do que nunca, a categoria precisa se unir para garantir seus direitos e lutas por seu papel na defesa do interesse público”, completou.
O jornal O Dia também está passando por uma situação muito difícil e corre o risco de encerrar suas atividades nos próximos meses, caso não encontre uma saída para a crise econômica em que se encontra. Funcionários já fizeram várias manifestações à frente de sua sede e procuram sensibilizar o poder público para encontrar uma solução que permita a garantia de manutenção de seus empregos. Dezenas de demissões já aconteceram na empresa e salários e obrigações trabalhistas estão atrasadas há vários meses.