Por Paola Nalvarte/JL
O jornalista cubano José Ramón Ramírez Pantoja teve que deixar seu país por causa da perseguição que ele disse estar sofrendo do governo depois de publicar as declarações de um funcionário do Estado que eram inconvenientes para o regime cubano.
O escritório norte-americano da organização Fundamedios disse estar apoiado Ramírez desde que soube que o jornalista entrou nos Estados Unidos pela Califórnia e pediu asilo às autoridades de imigração. Conforme relatado ao Centro Knight, o diretor da Fundamedios USA, Dagmar Thiel, conseguiu-se que a organização internacional de direitos humanos Human Rights First apoie legalmente o pedido de asilo de Ramírez.
“Eles me deixaram sem trabalho ou meios de subsistência, sem se importarem com os anos em que trabalhei como jornalista, só pelo fato de informar. Então vieram as ameaças, as pressões. Eles queriam que eu parasse de trabalhar para a imprensa independente e, ao mesmo tempo, continuaram censurando meu trabalho na imprensa oficial”, contou Ramírez por telefone ao portal 14ymedio antes de cruzar a fronteira do México no dia 8 de maio, publicou o site jornalístico cubano.
Ramírez está atualmente detido no centro de detenção do Serviço de Imigração e Controle Alfandegário dos Estados Unidos (ICE) em Adelanto, uma cidade no condado de San Bernardino, no sul da Califórnia.
Thiel disse que a Fundamedios USA está em constante comunicação com o jornalista e obteve ajuda de outras organizações jornalísticas e de direitos humanos, como a Repórteres Sem Fronteiras, para apresentar cartas de apoio a Ramírez.
“A RSF assinou, juntamente com nossos colegas da Fundamedios, uma carta de apoio a José Ramírez Pantoja dirigida ao centro de processamento da ICE onde está detido que confirma sua credibilidade como jornalista e as ameaças que recebeu em Cuba como resultado de sua publicação”, disse Daphne Pellegrino, da RSF, ao Centro Knight.
Da mesma forma, Thiel disse que eles conseguiram traduzir para o inglês todos os documentos que o jornalista precisa para seu processo legal, com a ajuda do jornalista e escritor cubano Carlos Alberto Montaner, que obteve a ajuda gratuita de um advogado compatriota.
Ramírez perdeu seu emprego na Radio Holguín em meados de 2016, em Cuba, depois de publicar no blog pessoal, Verdad de Cuba, e na sua página no Facebook declarações da subdirectora do jornal oficial Granma, informou 14ymedio.
Nas declarações, Karina Marrón indicava que as medidas econômicas que estavan para serem implementadas na época poderiam gerar protestos sociais importantes como os do Maleconazo de 1994, de acordo com a diretora de Fundamedios USA.
Ramírez só as publicou por algumas horas no blog personal e en Facebook, pois teve que retirá-las da internet no mesmo dia a pedido de seu empregador, segundo contou no seu blog. Não obstante, “estas declarações foram usadas pelo The Miami Herald nos Estados Unidos, citando que havia inquietude dentro de linhas oficiais” em Cuba em consequência da situación econômica, disse Thiel.
Como o jornalista disse em seu blog, apesar de dois outros jornais oficiais terem publicado antes de Ramirez alguns trechos do discurso de Marrón, ele foi culpado por publicar a informação completa em suas redes sociais e página pessoal, o que, segundo as autoridades lhe disseram, não estava autorizado.
Ramírez disse em seu blog que ele gravou na frente de de todos a videoconferência em que a vice-diretora do Granma declarou o que ele publicou. Isso ocorreu na VI Sessão Plenária Ampliada do Comitê Nacional da União dos Jornalistas de Cuba (UPEC), que ele cobriu como presidente da delegação de base de sua localidade, Holguin, em 28 de junho de 2016.
Meses depois, Ramírez foi suspenso por cinco anos pela UPEC, ficando impedido de trabalha num meio de comunicação oficial, de acordo com o Diário de Cuba.
Em Cuba, de acordo com o artigo 53 da Constituição Política, “a imprensa, o rádio, a televisão, o cinema e outros meios de comunicação são propriedade estatal ou social e não podem ser objeto, em nenhum caso, de propiedade privada”.
“Ele se candidatou a outros trabalhos que não tinham nada a ver com jornalismo e não lhe davam permissão para trabalhar”, disse Thiel. “No fundo, ao demiti-lo, o que eles estavam fazendo era que ele não tinha como resolver sua vida”, disse ele.
“A história de José Ramón Ramírez Pantoja é típica dos regimes totalitários. Quem se atreve a questionar a versão oficial torna-se ‘um sujeito perigoso e contra-revolucionário’. Se não for corrigido, eles o expulsam do trabalho e se tornam uma ‘não-pessoa”. Se reincidir, como é o caso de José Ramón, sofrerá nas mãos do Partido Comunista vários tipos de represálias: atos de repúdio, espancamentos e acusações formais para condená-los”, disse ao Centro Knight o escritor cubano Carlos Alberto Montaner, que vive exilado.
Até agora, como explica o diretor da Fundamedios USA, Ramírez já teve audiências em duas instâncias, nas quais lhe foi negada a uma condicional para responder ao processo em liberdade. De acordo com Thiel, sua audiência inicial estava marcada para 26 de agosto e foi antecipada para 16 de agosto.
“Mas estamos confiantes de que este é um caso muito forte, todas as evidências de perseguição são muito claras e, felizmente, já estão traduzidas”, disse Thiel. “Nós também fornecemos, e isso é parte do trabalho que temos feito através da Fundamedios, todos os apoios das organizações mundiais de direitos humanos que fazem seu relatório sobre questões de liberdade de expressão. Nós também fornecemos toda a informação da CIDH, que nomeou o caso de José Ramón em 2016, en inglês”, disse.
“Realmente esperamos que as autoridades norte-americanas vejam seu caso e possam conceder-lhe o asilo”, acrescentou.