Domingos Meirelles, Ricardo Melo, Balbina Flores, Artur Romeu e Emanuel Colombié. Foto: ABI
A organização Repórteres Sem Fronteiras divulgou nessa quarta-feira, 26, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a edição 2017 do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa. O encontro foi ancorado pelo presidente da entidade, Domingos Meirelles, e pelo diretor regional para a América Latina da RSF, Emanuel Colombié.
O levantamento mostra um aumento do número de países onde a situação da liberdade de imprensa é especialmente grave e revela a amplitude dos males e flagelos que prejudicam a liberdade de informar no mundo.
Domingos Meirelles manifestou sua preocupação com o agravamento da situação da liberdade de imprensa em vários países e também com o aumento do desemprego de jornalistas que aumenta a cada ano no Brasil.
“Em 2015, 1.200 jornalistas foram demitidos. No ano passado, mais de 900 demissões. Mensalmente, a ABI doa 126 cestas básicas para jornalistas desempregados que vivem em situação de extrema vulnerabilidade, quase no limiar da miséria. muito difícil. Esse quadro vem piorando nos últimos meses. A maior de todas as violências é o desemprego”, acrescentou o presidente da ABI.
O Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa revela que 21 países estão no espectro mais baixo do Ranking, nos quais a situação da imprensa é considerada como “muito grave”. 51 países (comparado a quarenta e nove no ano passado) estão no “vermelho”, onde a situação da liberdade de informação é considerada “difícil”. No total, cerca de dois terços (62%) dos países listados apresentaram um agravamento de sua situação em 2016.
Segundo o documento, pelo sexto ano consecutivo, o Brasil permanece estagnado na parte inferior do Ranking do RSF, passando da 104ª para a 103ª posição, entre 180 países. A entidade destaca que a liberdade de imprensa no país continua atrelada a velhos problemas: agressões, intimidações, pressões de toda a natureza, processos abusivos, falta de transparência pública, entre outros.
Nos últimos cinco anos, a RSF registrou 21 casos de assassinatos de jornalistas no Brasil, o segundo país mais mortífero para a profissão na América Latina no período, atrás apenas do México, onde no ano passado foram registrados 10 assassinatos de jornalistas.
Emanuel Colombié destaca que, no total, cerca de dois terços (62%) dos países listados apresentaram um agravamento de sua situação em 2016. A edição 2017 do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa elaborado pela Repórteres sem Fronteiras. revela a amplitude dos males e flagelos que comprometem a liberdade de imprensa e o acesso à informação em todo o mundo.
“O Brasil não tem nenhum mecanismo de proteção para os profissionais de imprensa. O Governo federal não faz nada para mudar esse quadro”, declarou Emmanuel Colombié.
“A instabilidade política e econômica observada em diversos pontos nessa zona geográfica não justifica esse ambiente às vezes hostil para o trabalho da imprensa. Os jornalistas que investigam temas sensíveis que afetam os interesses da classe política ou do crime organizado são regularmente feitos alvos, perseguidos ou assassinados. Diante de uma ameaça tão multifacetada, os jornalistas devem, com frequência demais, se autocensurar, ou até mesmo se exilar para sobreviver. Essas situações são insuportáveis em países democráticos. Já é tempo de inverter essa tendência e permitir que a profissão se liberte desses incontáveis entraves”, alertou.
Turquia
A Turquia, que foi relegada ao 155º lugar após a perda de mais quatro posições em 2016 (em doze anos, o país perdeu um total de 57 posições), é um dos casos mais preocupantes do Ranking 2017. Em 2016, a tentativa de golpe do mês de julho rompeu os últimos grilhões que ainda continham Ancara em sua guerra contra as mídias críticas. Mês após mês, o estado de emergência permite que as autoridades liquidem, a canetadas, dezenas de mídias, reduzindo o pluralismo a um punhado de jornais de tiragem baixa. Uma centena de jornalistas foram colocados atrás das grades sem julgamento, tornando a Turquia a maior prisão do mundo para os profissionais das mídias.
Em 2002, o México ocupava o 75o lugar no Ranking da RSF. Desde então perdeu quase o mesmo número de posições e ocupa hoje o 147º lugar, após o assassinato de 10 jornalistas em 2016 e um mês de março de 2017 marcado por ataques em série. A corrupção da classe política associada à violência do crime organizado corrói o país, em particular na escala local. Nos estados de Veracruz, Guerrero, Michoacán ou ainda em Tamaulipas, investigar um assunto incômodo pode colocá-lo rapidamente em perigo. A impunidade dos crimes cometidos contra a imprensa alimenta um ciclo vicioso que se perpetua ano após ano.
Em termos de risco para os jornalistas, o México está hoje logo atrás da Síria e do Afeganistão, que ocupa a 120ª posição. A coragem e os esforços dos jornalistas afegãos para cumprir bem sua missão de informar se chocam com a deterioração constante da segurança, ao mesmo tempo em que o país enfrenta a insurreição talibã e a organização Estado Islâmico e províncias inteiras se transformam em “buracos negros da informação”. Somente a vontade demonstrada pelo governo de fornecer mecanismos de proteção para os jornalistas permite ainda que o país evite sua queda no Ranking.