César Miguel Lopes*
Estudantes brasileiros de medicina reclamam da falta de respeito e atraso de diplomas em PJCA Universidad Sudamericana e UPAP da cidade de Pedro Juan Caballero, fronteira com Ponta porã, são alvos de descontentamento de alunos brasileiros
Ao contrário do que se possa pensar pelos últimos acontecimentos na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, fronteira com Ponta Porã, no Estado do Mato Grosso do Sul, o clima é de tranquilidade e hospitalidade. As pessoas são receptivas e fala-se português em qualquer canto. A cidade, famosa por notícias de violência entre grupos rivais pelo controle da região, acaba passando a falsa impressão de que se trata de um lugar perigoso para se viver, tanto não é verdade que é o destino preferido dos estudantes brasileiros interessados em Medicina nos últimos anos. Há no momento 7 Universidades que oferecem o Curso.
Nesse período de fim de ano, quando milhares de brasileiros fazem sua escolha de local para estudar no Exterior, é pertinente fazer um Raio-X da situação em que se encontram os que já estão fora há anos em busca desse sonho. Algumas instituições de ensino podem parecer boas opções, mas quem já está dentro pode ter motivos pra não concordar, é importante ter cuidado para não cair em cilada.
Estive em Ponta Porã por 5 dias neste mês de Novembro, acompanhando de perto a rotina de vários estudantes, conversando com eles, a fim de confirmar denúncias graves que chegaram até a Redação, há uma preocupação crescente dos alunos com relação ao tratamento dado de algumas Universidades aos alunos, promessas não cumpridas, autoritarismo e principalmente, atraso nas entregas dos Diplomas, ameaças, etc. Soubemos que há um grupo grande de pais se organizando para pedir ajuda ao Deputado Federal Alan Rick (PRB-AC), que é um importante defensor dos Médicos brasileiros formados no Exterior, no sentido de mobilizar o Ministério de Relações Exteriores através da sua Embaixada e Consulados no Paraguai, para acompanhar casos de atrasos em entregas de Diplomas e ameaças contra determinados grupos de alunos.
As instituições visitada foi a Universidade Sudamericana e UPAP, segundo apurei as duas são maiores em numero de alunos. Logo de cara, vi uma estrutura um pouco confusa, sem sinalização, banheiros com mau cheiro, uma tremenda falta de higiene, alunos reclamando de salas de aula sem ar condicionado (tem, mas não funciona), criaram varias taxas exorbitantes que não existe em outras instituições. O que eles chamam de Sede I parece na verdade um pombal sem a mínima estrutura pra ser chamada de Universidade. A aluna F.P.M, de 19 anos que cursa 1º ano de Medicina, me contou que os laboratórios são pouco utilizados, entre eles o Laboratório de Anatomia esta descuidado e que pouquíssimos alunos tiveram acesso a ele, chegando a ter recentemente corpo humano em decomposição, por mau uso. Há reclamações de ordem financeira também. H.M 27 anos, aluno do 3º ano de Medicina, disse que a Universidade editou novas tarifas para o Ano de 2017 com aumentos abusivos de taxas, corte nos descontos, criação de multas de 5% ao dia de atrasos e criação de taxas novas. “Não há aviso prévio para nada, não dialogam com a gente”, repete H.M “Se procuramos informações ou questionamos algo, ficamos marcados”, alega outro aluno do 4º ano. Ouvimos muitas críticas também referentes a mudanças constantes, inclusive na parte acadêmica, sem aviso prévio ou consulta aos alunos. Reclamam até de um problema com a Carteira Estudantil, imposta aos alunos, mas que não teria valor como se esperava, em todo o Mercosul. Um aluno do 5º ano disse que é comum perder um dia inteiro na fila para pagar mensalidade nos dias de pico, pois não há atendentes suficientes. Chegaram a me mostrar fotos registradas do fato ocorrido.
Curiosamente, nenhum aluno da Sudamericana quis se identificar, o que preservamos, alegam que isso significaria perseguição por parte da Direção, Parecem temer a figura do Decano Dr. Estevan Ensina (uma espécie de Diretor Geral), que é descrito por todos os entrevistados como alguém que não gosta de ser contrariado, perseguidor, muito mal educado e xenofóbico, fechado ao diálogo, genioso e que “faz questão de mostrar quem é que manda”. Chegaram até a reportagem áudios e vídeo de situação de mal tratos sofridos pelos alunos em conversas com esse Diretor. Nos últimos dias, foi organizado um grupo, Frente Única dos Estudantes para discutir com a faculdade uma pauta de questões que vão desde a melhoria no atendimento ao aluno até entraves criados pela instituição para a entrega de diplomas. Descobrimos que a primeira turma, formada em dezembro de 2015, com mais de 30 alunos, ainda espera, quase 1 ano depois pelos seus Títulos, apenas 2 alunas foram diplomadas! Conversamos por aplicativo de mensagem com um aluno formado em 2015 pela Sudamericana e que ainda não recebeu seu Diploma. “Não sabemos o que ocorre, somos mal recebidos, não nos da satisfação, estamos há quase 1 ano nessa angústia, aguardando, estudamos medidas judiciais e pedir apoio aos órgãos de defesa dos estudantes no Paraguai, bem como ao Governo Brasileiro também”, afirmou.
Consta também na pauta de reivindicações de esclarecimentos, questões sobre um Exame de Grado, instituído às pressas pela faculdade, durante esse ano. A turma de formandos 2016 teria que se submeter a esse exame para ter direito ao título. A questão é que não está previsto na Grade Curricular dessa turma, nem em Circular ou qualquer documento oficial da universidade. As coisas parecem ser impostas pela força, não importando a participação dos alunos ou mesmo a previsão em documento. A informação é que por falta de diálogo aberto com a instituição, grupos de alunos estão tendo que recorrer à justiça para assegurar seus direitos. A médica interna C.L.C. afirmou à reportagem também por aplicativo de mensagem que estão sendo ameaçados de ter parte do Internato anulado como retaliação e até mesmo, um absurdo, atraso na entrega dos Diplomas por até 2 a 3 anos! Nós vamos acompanhar os desdobramentos, caso se confirme.
Quando estávamos já finalizando a matéria, fomos informados de que a UPAP, outra universidade de PJC que oferece Curso de Medicina, também apresenta problemas na entrega de Diplomas e sumiço de documentos. Em breve voltaremos para falar com os alunos da UPAP.
Por tudo isso, é altamente recomendável que você, candidato a cursar Medicina no Exterior, conheça as instituições, converse com os alunos, especialmente os que estão terminando ou terminaram o curso, saiba o perfil dos seus dirigentes e a política de cada Universidade. Procure saber se a instituição escolhida entrega em tempo adequado o Título de Graduação ou tem mecanismos que podem alongar os prazos. Se os laboratórios para as práticas são bem cuidados, bem montados e devidamente utilizados por todos. Se há uma boa estrutura física, ambiente agradável e propício aos estudos e principalmente, se você será ouvido e respeitado.