Marta Teixeira
Há quase três anos, Jack Stewart integra a equipe de jornalistas da revista Wired. Stewart pertence ao núcleo responsável por tecnologia, mais especificamente o segmento que acompanha as evoluções no setor de transportes para o futuro. Antes trabalhou dez anos na BBC, na editoria Ciência em Ação. Quer saber sobre carros autônomos (sem motorista), veículos voadores, túneis subterrâneos, propulsão elétrica e as adaptações das cidades a essas inovações? Ele é o cara.
Convidado do Festival Piauí GloboNews de Jornalismo, Stewart falou um pouco sobre o desafio de cobrir esse segmento. Para além do “glamour” de aprender a pilotar um helicóptero apenas para comprovar se as manobras feitas por Tom Cruise em Missão: Impossível – Efeito Fallout eram mesmo possíveis – sim, em algumas partes do mundo, reportagens como essa ainda são viáveis! -, o jornalista da Wired afirmou que paixão e curiosidade são fundamentais para se dar bem na cobertura de novas tecnologias.
Stewart é formado em engenharia mecânica e jornalismo, uma combinação que lhe permite acompanhar seu segmento por duas frentes. Uma com olhar técnico e outra crítico. E quando o assunto é tecnologia, é importante sempre desconfiar de afirmações absolutas.
“Como jornalista, o que você publica não é o que está no release”, alerta. Em outras palavras, o ofício demanda que o profissional questione informações que não são acompanhadas por dados comprovando as afirmações e recorra a outras fontes para buscar as informações que necessita.
“Esse é o meu trabalho, tentar entender tudo isso. O que está acontecendo”, explica Stewart. Uma tarefa para a qual a graduação em engenharia ajuda, mas que ele não considera ser essencial.
Na Wired, por exemplo, apesar da complexidade e profundidade com que os assuntos são abordados, ele afirma que não se exige esse tipo de formação técnica. “Ser especialista tem a ver com paixão. Dá para aprender muito e ensinar muito sobre algo que você se interessa”, garante. E a leitura, como sempre, é a porta de entrada para a qualificação. “Eu lia tudo sobre tudo que me interessava”, recorda.
A condição de especialista, contudo, não pode se tornar uma armadilha. Na Wired, a função de Stewart é redator. “Mas a gente faz tudo”, ressalta o jornalista, que também contribui para o podcast e o setor de vídeo da publicação. “Quanto mais conseguir aprender, mais útil você vai ser na redação. Eu me tornei especialista, mas é bom sempre ter perspectiva porque você sempre poderá fazer coisas diferentes.”
Com essa postura, Steward construiu um currículo com participação em coberturas díspares como a Guerra do Golfo, no Iraque, o 11 de Setembro, os atentados a bomba no metrô de Londres e testes como o já citado episódio do helicóptero.
Apesar do ambiente geral de incerteza que cerca boa parte das publicações no mercado jornalístico atualmente, Stewart afirma que financeiramente a Wired tem boa saúde e consegue se manter no azul. Integrante do grupo Condé Nast Publications, no início do ano, a revista adotou o paywall em seu modelo de negócios. “O objetivo é aumentar o foco em jornalismo longo e de mais qualidade, por isso criamos o paywall e tem funcionado muito bem”, complementa.