Há exatos 19 anos, o jornalista Tim Lopes foi sequestrado por traficantes na Vila Cruzeiro, comunidade na zona norte do Rio de Janeiro, e levado para a Favela da Grota, no Complexo do Alemão, onde foi torturado e executado.
Neste 2.jun.2021, mais do que relembrar a morte de Tim Lopes, a Abraji quer enfatizar o legado deixado pelo jornalista.
Tim Lopes é lembrado por ser um profissional que lutava pelas minorias. Tânia Lopes, irmã do jornalista, disse, em entrevista à Angelina Nunes, na primeira temporada do podcast Jornalismo sem trégua, que o principal legado de Tim são as denúncias de injustiças sociais no país e a disseminação dos preceitos do jornalismo investigativo.
“Há quarenta anos, ele já trazia pautas sobre racismo, favelados, talentos dentro de favelas. Tinha uma forma própria de fazer jornalismo e conceituou o jornalismo investigativo sem nem saber. Esse é o grande legado do jornalista Tim Lopes”, observa a irmã.
Arcanjo Antonino Lopes, o Tim, se disfarçou muitas vezes para denunciar o que estava errado. Foi pedreiro e mostrou a dura vida nos canteiros de obras, fingiu ser dependente químico e denunciou irregularidades em clínicas de tratamento. Chegou até a dormir na rua para contar a história de menores abandonados.
O jornalista é lembrado também pela ajuda que dava aos focas, isto é, repórteres jovens, recém-formados e inexperientes. No último episódio do podcast sobre Tim Lopes, os repórteres Ana Cláudia Costa, Vera Araújo e Sérgio Ramalho relembram os encontros com Tim, na redação ou na rua, apurando uma matéria.
“Era estagiária na rádio JB, e o Tim trabalhava no Jornal do Brasil. A gente se encontrava no elevador, e meu olho brilhava. Depois, recém-formada, passei a encontrar com o Tim Lopes na rua, e ele me ensinou muito”, conta Ana Cláudia Costa.
Ela recorda um episódio em que fazia uma cobertura no Morro da Providência (RJ), e os moradores não queriam falar com a imprensa.
“O Tim falou assim: ‘Vou te ensinar como faz’. Sentamos em um bar na comunidade, compramos duas garrafas de guaraná, chamamos as crianças, e elas conseguiram alguém para falar com a gente. Aprendi muito com o Tim, era uma aula de jornalismo, uma aula de ser repórter”, conta a jornalista.
O repórter Tim Lopes em novembro de 1979, como operário no canteiro de obras do metrô, na Mangueira Foto: Reprodução
Além de ter provocado grande impacto no jornalismo e na sociedade, a morte de Tim Lopes deixou lições para os veículos. A principal foi a preocupação com a segurança dos repórteres. “O aprendizado para gerações futuras é de que o jornalismo deve ser valorizado, mas com responsabilidade, com amor à própria vida e tendo respaldo das empresas”, afirma o jornalista Che Oliveira.
A criação da Abraji é outro legado de Tim Lopes. Três meses após o assassinato do repórter, o jornalista Marcelo Beraba convidava, por e-mail, 44 repórteres e editores de diferentes veículos a unirem-se em uma nova associação. Em dezembro de 2002, cerca de 140 jornalistas decidiram criar a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.
Anos depois, em 2017, nasceu o Programa Tim Lopes, uma resposta da Abraji à violência contra jornalistas no Brasil, principalmente no interior. Marcelo Beraba foi o idealizador do programa, e Angelina Nunes, ex-presidente e conselheira da Abraji, é a coordenadora.
No último episódio do podcast Jornalismo sem trégua sobre Tim Lopes, a irmã Tânia Lopes e Bruno Quintella, filho do repórter, contam que agora olham para o futuro, para o legado e a memória de Tim Lopes. Quintella diz que a avenida Jornalista Tim Lopes, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, é algo importante e que fica para a memória da cidade. Mas considera que o legado do pai foi principalmente para a profissão.
“Alguns estudantes, de 18, 19 anos, me procuram para falar do meu pai, dizendo que querem virar jornalistas por causa da trajetória dele. O legado é esse, uma coisa ininterrupta, uma multiplicação do trabalho dele pelas gerações”, conclui.