“Mesmo sendo ficção, como sinaliza o lettering inicial, ‘O Mecanismo’ é uma conquista institucional”. Jornalista Carla Fiamini analisa a série em artigo para o Portal Comunique-se
Num curto espaço de tempo, ‘O Mecanismo’ se tornou a bola da vez num país indiscutivelmente desgastado e cansado de sua própria história, mas que está tendo a oportunidade de conhecê-la melhor, e de maneira bem pedagógica, por meio da série disponível em plataforma streaming.
Alguns, é claro, recomendam, elogiam e até compartilham – mesmo sem terem assistido à série, “porque, já que todo mundo só fala nisso, não é, vamos comentar, também…”.
Outros atacam a iniciativa e ainda se vitimizam perante à obra de sonoridade sofrível, mas de enredo sedutor. Afinal, não é todo o dia que a TV nos fornece um produto com contornos de entretenimento que nos coloca cara a cara com quem se beneficiou ou se beneficia (segundo a narrativa) do dinheiro público, de todo um sistema reprovável, covarde e que, infelizmente, cheira à naftalina.
Por meio de ‘O Mecanismo’, sabemos onde vivem, com quem moram, o que fazem, como se vestem e do que se alimentam os algozes da pátria, que por anos até foram anônimos, e que tempos depois, mesmo ocupando expressivo espaço nos telejornais e na mídia impressa, não nos pareciam, digamos, tão interessantes – no máximo interesseiros.
Políticos ou indicados por estes para as mais variadas tarefas, os personagens do “núcleo rico” de ‘O Mecanismo’ são os mesmos do “núcleo dos vilões”. Eles não têm apenas cúmplices – eles também têm família, carrões, piscinas, vida boa e, no decorrer da história inspirada no livro Lava Jato – O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil choram e até parecem sofrer. Não cheguei ainda ao episódio em que estes homens e mulheres demonstram arrependimento.
Legenda: Selton Mello é protagonista de ‘O Mecanismo’ (Imagem: Netflix)