O “Retrato da Categoria”, um compilado de dados feito pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, revelou que o número de jornalistas e sua remuneração têm reduzido nos veículos impressos, enquanto aumentam em rádios e TVs.
O levantamento foi feito a partir de informações do Dieese publicadas em dezembro de 2020 com dados da RAIS de 2019 e do Caged de 2020, do Ministério do Trabalho.
Segundo os números, de 2010 para cá, as redações de jornais e revistas de São Paulo diminuíram 58,5%. Dos 4.281 jornalistas contratados, restaram 1.777 em 2019. A remuneração média nesses veículos, calculada em R$ 6.883,59 no ano de 2019 já foi 11% maior.
Já o total de jornalistas em rádio e TV cresceu 29,3% até 2019, com remuneração média de R$ 9.460,00, um aumento de 39,9%.
“Os dados, que caminham em sentidos opostos, mostram que as emissoras de rádio e TV mantiveram sua robustez frente à crise econômica, que se apresenta de forma aguda no setor de jornais e revistas, decorrente da forte presença de gigantes da tecnologia digital como Google e Facebook no mercado publicitário”, escreveu Priscilla Chandretti, secretária de Comunicação da entidade.
Pandemia
A relação entre admissões e demissões entre janeiro e outubro de 2020, como mostram os dados do Caged 2020, revelam o impacto da pandemia do novo coronavírus no emprego dos profissionais do jornalismo. Foram 271 postos de trabalho a menos.
O impacto maior foi visto no interior de São Paulo, com saldo negativo de 189 jornalistas, no universo de 5.161 em 2019, enquanto na capital o número era de 8.988. A remuneração média do interior também é menor, com R$ 4.578, ante a R$ 7.941 na capital.
No setor de rádio e TV o cenário já é diferente. Ele gerou 70 novos empregos, enquanto o de jornais e revistas apresentou perda geral de 160 vínculos.
Exclusão de cor e gênero
Assim como em setores como bancos e montadores, onde são pagos salários mais altos, no jornalismo levantamento do Dieese mostra que 72% dos contratados são brancos, e apenas 13% se identificam como pretos ou pardos.
Flávio Carrança, coordenador da Comissão de Jornalistas por Igualdade Salarial (Cojira-SP), avalia que a ausência de pretos e pardos é quase um ciclo que se repete dentro das redações. “Como na redação são quase todos brancos, de classe média, dificilmente suas redes de relações vão incluir gente negra da periferia, ou mesmo gente negra de classe média, e isso influencia na contratação. Além disso, os poucos negros e negras estão na base, com salários mais baixos”, afirma.
Diferentemente, as mulheres têm grande presença na categoria: são 51,4%, mas a equidade passa longe quando se trata de salário: a remuneração média recebida por elas em 2019 foi de R$ 6.090,40, enquanto a de homens era de R$ 7.374,50.
Entre os trabalhadores registrados como “editor”, por exemplo, há 1.695 homens e 300 mulheres a menos.
“A regra é que qualquer ocupação, em qualquer setor econômico, em qualquer faixa salarial ou nível de formação, as mulheres vão receber menos que os homens, mesmo nos setores considerados tipicamente femininos, como saúde ou educação”, afirma Adriana Marcolino, do Dieese. “Há todo um debate de que a qualificação melhoraria a renda da mulher, mas estudo do Dieese mostra que, quanto mais aumenta o grau de formação, maior é o gap em relação ao salário do homem”, completa.