A Polícia Nacional do Haiti (PNH) disse no dia 4 de abril que prendeu duas pessoas supostamente relacionadas com o desaparecimento do fotojornalista Vladjimir Legagneur, visto pela última vez no dia 14 de março.
Segundo reportagem do jornal jamaicano The Gleaner, o porta-voz da PNH, Frantz Lerebours, disse que o telefone celular do fotojornalista estava com os dois suspeitos presos.
Lerebours também disse que ossos humanos encontrados no dia 28 de março em Grand Ravine, nos arredores de Porto Príncipe, capital haitiana, serão enviados para o exterior para uma análise de DNA, informou The Gleaner.
Na semana passada, notas na imprensa haitiana afirmaram que a polícia estava investigando parte de um corpo humano encontrado na área onde Legagneur desapareceu.
O fotojornalista tinha 30 anos e trabalhava como freelancer em Grand Ravine, que o Miami Herald descreve como um “bairro de Porto Príncipe dominado por gangues“, no dia em que desapareceu, segundo o jornal.
Sua esposa, Fleurette Guerrier, disse que eles concordaram em se falar duas horas depois da última vez que conversaram, mas quando ela ligou, não houve resposta, informou o Herald. Ela então denunciou o desaparecimento de Legagneur dois dias depois “e disse que ela não soube mais dele”.
Jornalistas locais, nacionais e internacionais e organizações pela liberdade de expressão e por direitos humanos pediram a atenção da polícia para o caso nas semanas após o desaparecimento. Em 29 de março, a polícia informou que parte de um corpo e um chapéu foram encontrados em Grand Ravine depois que uma operação no bairro foi ordenada pelo chefe de polícia Michel-Ange Gédéon, informou o Miami Herald.
O colega fotojornalista Pierre Michel Jean disse ao Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) que Legagneur estava trabalhando em um projeto independente sobre as consequências dos conflitos entre a polícia e as gangues no bairro de Porto Príncipe.
Dois policiais e vários civis morreram durante uma operação policial em Grand Ravine em novembro, informou o Miami Herald.
“As mortes levantaram questões sobre o que aconteceu durante a operação. Os membros das gangues continuam desconfiados de forasteiros, e a polícia está relutante em entrar”, segundo o Herald. “Mesmo as forças de paz das Nações Unidas, antes de sua retirada do Haiti em outubro, muitas vezes evitavam a comunidade”.
Legagneur trabalhou anteriormente para o jornal Le Matin, a agência de notícias online Loop Haiti e outros veículos e organizações não-governamentais, segundo a Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Jornalistas e familiares de Legagneur realizaram uma marcha silenciosa em Porto Príncipe em 28 de março “para denunciar a passividade das autoridades” no caso, segundo a Radio Television Caraibes.
No dia anterior, a Associação Nacional de Mídia Haitiana (ANMH) expressou preocupação com o silêncio das autoridades policiais e judiciais após o desaparecimento de Legagneur e instou-os a encontrarem seu colega, de acordo com o Jamaica Observer.
O Escritório do Relator Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) instou as autoridades haitianas a localizar Legagneur.
“Além de proteger os direitos à vida e à integridade pessoal de Legagneur, o Estado deve dirigir uma investigação completa sobre os supostos eventos que levaram ao seu desaparecimento”, disse o Escritório, segundo um comunicado de imprensa.
A RSF, o CPJ, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), a Federação Internacional de Jornalistas(IFJ) e outras organizações internacionais fizeram eco a essas demandas.
O CPJ observou: “Casos de violência contra jornalistas no Haiti permanecem frequentemente na impunidade. O dia 3 de abril marcará 18 anos desde o assassinato de Jean Léopold Dominique, proprietário e diretor da estação independente Radio Haiti Inter, que foi morto a tiros em 2000.” A organização acrescentou que sua morte “permanece sem solução”.