O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, ficou incomodado ao ser questionado pela repórter Larissa Schmidt, da TV Globo, durante entrevista sobre o decreto declarando a cidade em estado de calamidade. Em entrevista coletiva na quinta-feira (11), o governante disse que a emissora “faz drama sobre coisas corriqueiras”.

“Perdão, prefeito, o senhor acha que o que aconteceu foi um drama corriqueiro”, questionou a jornalista. A reação de Crivella foi dar-lhe as costas e se dirigir a outros repórteres. Segundo o prefeito, é por isso o presidente e outros políticos não dão entrevistas à emissora.
Larissa lembrou que dez pessoas morreram na cidade em decorrência das chuvas do início da semana. Crivella, então, disse estar se referindo ao trânsito da cidade.
Ele, que pouco antes havia dito que a emissora “é absolutamente contra a cidade” e “anuncia o tempo todo os problemas do Rio”, afastou a repórter e classificou o comportamento da Globo de “chantagem”. “O que a Globo quer é dinheiro na sua propaganda. O que ela quer é que a gente faça uma festa no Carnaval, e ela possa vender R$ 240 milhões, com a prefeitura pagando.”
Reações
A Globo divulgou nota repudiando a atitude do governante de afastar a profissional que o estava entrevistando. “A Globo também repudia a afirmação de Crivella de que a emissora fez drama com coisas corriqueiras na cobertura jornalística do temporal de segunda-feira. A Globo cobriu uma tragédia que tirou a vida de dez cariocas e cumpriu a obrigação jornalística de mostrar que a prefeitura demorou a acudir a população – um fato reconhecido pelo próprio prefeito, num momento raro de autocrítica”.
Na nota, lida durante o Jornal Nacional, a empresa chama de descabidas as declarações sobre o Carnaval. “A Globo compra os direitos de transmissão das escolas de samba e paga um valor seis vezes maior do que aquele que elas recebem de subvenção da Prefeitura”, informa o texto.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também criticou a atitude de Crivella. “A Abraji considera a atitude do prefeito diante dos questionamentos de Larissa Schmidt incompatível com seu cargo. Agentes públicos têm o dever de fornecer informações sobre suas atividades e de respeitar o trabalho dos jornalistas de levar tais informações ao público. Discriminar meios de comunicação é antidemocrático e fere a liberdade de imprensa”, disse em nota.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (Sindjor) criticou o governante em sua página no Facebook. “Cabe a toda e qualquer autoridade atender aos questionamentos da imprensa, que visa esclarecer à população sobre as medidas do poder público. Eventuais atitudes que cerceiem o trabalho das equipes de reportagem comprometem o direito de a população avaliar o trabalho da administração municipal, tanto no que diz respeito aos aspectos positivos, quanto aos negativos. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro se solidariza com todos os profissionais de imprensa presentes à entrevista coletiva, que se viram prejudicados com a suspensão repentina da prestação de contas à população carioca, por parte do prefeito Marcelo Crivella”, escreveu.
A Federação Nacional das Empresas de Rádio e Televisão (Fenaert) também se pronunciou criticamente. “A Fenaert lamenta profundamente o ocorrido e repudia o cerceamento à liberdade de imprensa e expressão jornalística, sendo contra qualquer atitude que vise impedir um jornalista de fazer o seu trabalho, bem como qualquer ofensa ao trabalho das emissoras de informar a população sobre os fatos. A entidade destaca que este tipo de fato é muito grave, ainda mais por envolver uma figura pública”, divulgou em comunicado.