A Sociedade Interamericana de Imprensa (da sigla em espanhol SIP) pediu esclarecimento ao governo dos Estados Unidos sobre a existência de um banco de dados secreto criado para vigiar jornalistas que fazem a cobertura das caravanas de migrantes centro-americanos. A entidade considera a lista uma política discriminatória que restringe o trabalho jornalístico e compromete a liberdade de imprensa.

A existência do banco de dados foi comprovada pela NBC 7 Investigates, de San Diego. De acordo com a emissora, documentos obtidos por sua equipe mostram que o governo americano possui uma lista secreta com ativistas, jornalistas, influenciadores digitais, advogados etc e em alguns casos colocou alertas em seus passaportes.
A publicação informa que jornalistas que cobriram a caravana, assim como advogados e outras pessoas que ofereceram assistência a seus membros, afirmam ter se tornado alvo de inspeções e escrutínios intensos dos oficiais de fronteira.
A emissora obteve os documentos que comprovam as denúncias de uma fonte ligada à Segurança Nacional. Com a condição de anonimato, ela informou que agentes da Customs and Border Protection (CBP), imigração, Customs Enforcement (ICE), patrulha de fronteira dos EUA, Homeland Security Investigations e alguns agentes do FBI de San Diego utilizam um aplicativo SharePoint com essas informações.
O documento, datado de 9 de janeiro, tem o nome de “San Diego Sector Foreign Operations Branch: Migrant Caravan FY-2019, Suspected Organizaers, Coordinator, Instigator, and Media e possui selo com as bandeiras dos EUA e do México. Um oficial do departamento de segurança interna informou que o símbolo indica que os documentos foram produzidos em cooperação entre os dois países. Dez jornalistas (sete americanos, dois espanhóis e um mexicano) estão na lista.
A presidente da SIP, María Elvira Domínguez, considerou a medida “muito preocupante” e acrescentou: “devemos estar alertas porque esta situação nos relembra outros casos que temos denunciado na América Latina onde, em nome da segurança nacional, se criam ‘listas negras’ para manter à distância jornalistas independentes e outros profissionais incômodos”.
“No caso dos jornalistas, a criação da lista secreta busca restringir e dificultar a cobertura de um assunto de relevância internacional. Esta é uma política discriminatória que restringe a liberdade de imprensa”, acrescentou o presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação, Roberto Rock.