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Site de homenagem a jornalistas vítimas de covid-19 mostra América Latina com mais de uma morte por dia

No dia 28 de março de 2020, poucos dias depois da chegada do coronavírus ao Brasil, o país registrou a primeira morte de jornalista pela covid-19 na América Latina.

Crédito: Reprodução
Jornalistas vítimas de covid-19 no Brasil: Robson Filene, Ronaldo Porto, Elisângela Nepomuceno (acima), Nilo Alves, Túlio Moreira e Izinha Toscano 

Lauro Freitas Filho tinha 61 anos, morava no Rio de Janeiro, e era editor-chefe do jornal “Monitor Mercantil”. A contaminação se deu mesmo ele trabalhando em casa, acatando o isolamento social prescrito pelo governo do estado.

O relato sobre Lauro aparece entre mais de 900 outros coletados e escritos pela Press Emblem Campaign (PEC), que acompanha os casos desde março do ano passado a partir de informações publicadas na imprensa local e pesquisas com sindicatos, organizações nacionais de jornalistas, publicações na internet e redes sociais.

O que era inicialmente uma ação para homenagear os jornalistas mortos em todo o mundo e chamar a atenção para a função social da categoria no combate à pandemia se transformou em um enorme banco de dados que revela um cenário alarmante: na América Latina, mais de um jornalista morre a cada dia por covid-19.

De acordo com o levantamento da organização, 908 jornalistas morreram da doença em 70 países, a contar de 16 de março de 2020 até 16 de março de 2021.

Destes, 505 casos ocorreram em 18 países latino-americanos, mais da metade do total. A média diária da região é de 1,44, sendo que 21 mortes foram registradas só nas duas últimas semanas, quando o Brasil, por exemplo, registrou recorde de óbitos desde o início da pandemia.

“A troca internacional de informações e o livre fluxo de notícias independentes são necessários mais do que nunca para combater o vírus, e não notícias falsas, preconceitos ideológicos e pressões políticas. Ter como alvo os jornalistas nestes tempos tão difíceis é um duro golpe para informar o público sobre a evolução da epidemia”, frisou o secretário-geral da PEC, Blaise Lempen, no site onde consta o levantamento.

Os três países latino-americanos que lideram o ranking de mortes de jornalistas por covid-19 são: Peru (135), Brasil (113) e México (89).

Crédito: Press Emblem Campaign

Entre os casos mais recentes está o do brasileiro Robson Filene de Oliveira , 52, na segunda-feira, 15, um dia após completar 52 anos de idade. Robson trabalhou nos jornais Diário da Manhã e Tribuna do Planalto.

Um dia antes, o Brasil perdeu o apresentador de televisão e ex-vereador Ronaldo Porto, que estava internado em um hospital particular na capital. Nas redes sociais, foi grande a mobilização de jornalistas e fãs de Ronaldo, um dos grandes nomes da comunicação no Pará.

No início da pandemia, as redações brasileiras sofreram surtos de infecção. Na filial carioca da TV SBT, 35 profissionais adoeceram e dois jornalistas morreram. A Fenaj identificou que jornalistas com mais de 50 anos respondem por mais da metade das vítimas no País, mas há casos de jovens, como Letícia Fava, 28, e Janael Labes, 24.

No Peru, líder em óbitos na região, a Associação Nacional de Jornalistas denunciou a precariedade em que a categoria trabalha. “Pelo menos 70% dos jornalistas nas regiões são autônomos. Eles próprios tiveram que conseguir seus equipamentos de proteção individual”, disse à LatAm Journalism Review Zuliana Lainez, secretária-geral da ANP.

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