A Rede Internacional de Checagem de Fatos, que tem como diretora a jornalista brasileira Cristina Tardáguila, foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz. A entidade reúne 79 agências de checagem de notícias em 51 países, distribuídos pelos cinco continentes.
A indicação foi feita pela deputada norueguesa Trine Skei Grande, ex-ministra da Educação e da Cultura em seu país, e o resultado com os cinco finalistas será divulgado em março.
Uma das iniciativas que levou a IFCN (sigla em inglês) à importante indicação foi a CoronaVirusFacts Alliance, criada para combater a desinformação sobre a pandemia de covid-19. O trabalho reúne 99 organizações de 77 países e 43 idiomas, e rendeu um banco de dados com mais de 10.300 verificações.
“Com toda essa diversidade, o projeto conseguiu alcançar um consenso para produzir checagens sobre a crise sanitária. Toda a produção dessas equipes foi organizada em uma planilha compartilhada, traduzida e republicada por outros membros”, explica Tardáguila.
A CoronaVirusFacts Alliance foi eleita, entre mais de 180 concorrentes, pelo Paris Peace Forum – maior evento mundial de economia criativa – como um dos dez projetos a serem monitorados ao longo de 2021.
Para Tardáguila, a nomeação, além de uma grata surpresa, representa um suporte aos fact-checkers. “Nosso trabalho está sob forte tensão, coibido por ameaças, bloqueios, difamação, ódio puro e duro mesmo. É um alento que a comunidade internacional apoie os profissionais de países como Filipinas, onde Maria Ressa foi detida de forma arbitrária, México, em que o presidente descredibiliza veículos como o Animal Político, e o próprio Brasil”, disse em entrevista à Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Para a diretora-executiva e cofundadora da agência de checagem Aos Fatos, Tai Nalon, a indicação mostra que há autoridades atentas à importância do trabalho da IFCN, apesar de todos os ataques recebidos por alguns governos: “Há jornalistas checadores em todo o canto do mundo sob ameaça constante de governos e poderes constituídos por simplesmente indicarem o que é fato. Essa indicação demonstra a gravidade da situação”.
Daniel Bramatti, editor do Estadão Verifica, considerou que em uma crise como a pandemia o valor da boa informação fica evidente. “Não tenho dúvidas de que o bom jornalismo e a checagem de fatos ajudaram a salvar vidas e a evitar uma disseminação ainda maior do vírus. O lado triste é que muitas vezes nosso trabalho é menos amplificado do que as mentiras. O jornalismo enfrenta seu maior desafio em décadas com equipes reduzidas e sob ataque de grupos politicamente motivados. Qualquer manifestação de apoio é muito necessária e bem-vinda.”
Nobel da Paz
A cerimônia de premiação é realizada todos os anos em dezembro. Já foram laureadas figuras históricas como Martin Luther King, Nelson Mandela, Malala Yousafzai, além de entidades como Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
Como fazer parte da IFCN
Qualquer organização noticiosa que tenha um braço de fact-checking pode pleitear uma filiação à Rede Internacional de Checagem de Fatos. A empresa deve mostrar que existe e tem um site ativo. Em seguida, a IFCN escolhe um especialista em comunicação no país de origem da organização para analisá-la, como assessor independente.
O próximo estágio é cumprir os princípios éticos da rede: transparência de financiamento, metodologia e fontes, política de correção pública efetiva e apartidarismo.
A avaliação final é feita pelo conselho da IFCN, composto por 11 checadores experientes. Todos têm acesso ao relatório e deliberam se a nova organização deve ou não fazer parte da rede.
Os membrostêm acesso a um kit de ferramentas não acessíveis financeiramente a redações menores, via de regra, e têm a oportunidade de aderirem a programas como o Third Party Fact-checking do Facebook, que pode gerar renda. A anuidade custa cerca de US$ 200.