Alex antes depois com Fábio da Silva Batista – Fotos: arquivo pessoal
Um empresário do Rio de Janeiro ficou sensibilizado com o pedido de um morador em situação de rua que estava ensopado, num dia de chuva, segurando uma placa que dizia: “Troco sorriso por um trabalho”.
Fábio da Silva Baptista tinha acabado de almoçar em um restaurante quando viu e foi falar com o homem. Ele ficou tão emocionado com a história de vida do Alex, que conseguiu emprego para ele – na empresa de um amigo – e vai pagar o aluguel durante seis meses, até que o homem consiga andar com as próprias pernas.
“A emoção me levou até ele e fui entender o racional por trás daquilo e o fato de não pedir nada, dinheiro, comida. Ele queria um trabalho. Eu vi o desejo nos olhos de ter uma oportunidade, sinceridade, humildade. Vi que não havia interesse algum, a não ser ter novamente a dignidade dele resgatada […] e vontade de dar a volta por cima”, contou em entrevista ao Só Notícia Boa, Fábio da Silva Batista, empresário do ramo de consultoria contábil.
Vítima da crise
O empresário descobriu que Alex é mais uma vítima da crise econômica. Ele tem profissão, não usa drogas, não tem antecedentes criminais, mas ficou desempregado e foi parar nas ruas há 1 ano e meio.
“Tive uma conversa direta sobre drogas, alcoolismo… a fisionomia dele mostra que não usa drogas. Está magro porque não come. Nós fizemos levantamento da ficha dele. Puxamos antecedentes criminais e não tem nada. É uma pessoa limpa. Ele está sem documentos e o meu time já está trabalhando para tirar tudo novamente, mas ele sabia números de CPF, RG, tudo de cabeça”, disse Fábio.
O empresário conta que outra coisa chamou a atenção dele: o esforço do Alex para fazer a higiene pessoal, mesmo vivendo nas ruas. Ele pedia dinheiro nos semáforos, comprava caixas de doces para revender e fazia duas coisas com o dinheiro:
“Usava [o dinheiro] para se alimentar, muitas vezes pagar uma refeição por dia, ou sem refeição, e juntava toda semana 35 reais para pagar uma noite em um quarto de albergue, onde conseguia lavar as roupas dele nesse quarto. Nos outros dias da semana, ele dormia na rua e tentava fazer a higiene em bicas, onde tivesse água. Essa disciplina de juntar os 35 reais, para ter uma higiene descente, me chamou a atenção”, contou.
A história
Alex tem 33 anos, é solteiro, nasceu no interior de Minas Gerais, foi abandonado pela mãe e criado apenas pelo pai, que morreu, quando ele foi tentar a vida no Rio, há 4 anos.
Ele disse ao Fábio que “quando chegou no Rio, conseguiu se recolocar profissionalmente. Ele sempre trabalhou em serviços gerais, ajudante de cozinha, trabalhou em cozinha industrial em empresas de grande porte. Durante três anos ficou empregado com alojamento dentro do local onde trabalhava. Pouco antes da pandemia, ele ficou desempregado. O patrão dele faliu e ele perdeu o emprego e o alojamento e não conseguiu se recolocar. O dinheiro que ele tinha guardado acabou e ele passou a viver nas ruas, isso há um ano e meio, aproximadamente”.
O Alex “cursou até o ensino médio, é uma pessoa educada, mas deixou de ter oportunidade”, disse o empresário.
O emprego
E a mudança já começou. Fábio ajudou a fazer uma pequena transformação no Alex, que chegou lá com cabeludo, barbudo, com poucas roupas, baixa autoestima e começou a ser preparado para começar o novo trabalho, na próxima segunda-feira.
“Alex vai começar dia 1º de março como auxiliar de serviços gerais em uma das obras de um meu amigo do ramo construção civil. Ele vai ganhar R$ 100 por dia, aproximadamente R$ 2 mil por mês, mais alimentação, transporte. É nesse local que ele vai trabalhar”, adiantou Alex para o SNB.
E desde que conheceu Fábio, o Alex passou a ter um lugar digno para dormir.
“Nós entramos em contato com o albergue [onde ele dormia uma vez por semana] e fechamos um aluguel mensal pra ele. Nós vamos custear esse aluguel durante 6 meses. Nós queremos que ele tenha engajamento próprio de buscar a retomada e depois tocar a vida dele sozinho.”.
O empresário
Esse jeito altruísta, de acreditar na humanidade, vem da própria história de vida do empresário, da BPOINNOVA Brasil, que atua em São Paulo, Rio e Curitiba.
O Fábio nasceu em São Paulo, tem 51 anos, é casado, tem duas filhas e sabe bem como a vida pode ser dura algumas vezes.
“Já fui sequestrado, já fui assaltado… mas nada faz com que eu perca o sentimento de acreditar no ser humano. Quando criança, passei muita necessidade, vendi limão em semáforo, trabalhei na feira, tive pai alcoólatra e as portas em algum momento se abriram na minha vida. Hoje eu sou empresário, consigo prover oportunidades, empregabilidade”, agradeceu.
Ele disse que foi a primeira vez que tirou alguém das ruas, mas há anos ajuda pessoas de outras formas.
“Com frequência nos envolvemos em ações para pessoas que precisam de ajuda, com dificuldades cognitivas, crianças abandonadas, idosos abandonados e pessoas que precisam de oportunidade. Também tentamos na nossa empresa, ou nos nossos ciclos de relacionamento, buscar oportunidades para pessoas que estão dispostas a resgatar sua dignidade, voltar ao trabalho e reconstruir a vida”.
No ano passado […] fomos buscar jovens com alto grau de capacitação, que tem muitos nas favelas aqui do Rio de Janeiro, para trabalhar na nossa área de desenvolvimento tecnológico. Foi um sucesso. Entraram e estão aqui até hoje”.
“No final do ano [com a pandemia] fazemos o IlumiNatal […] Nossa verba foi convertida em ações para casas de pessoas com necessidade especiais, para asilos, orfanatos… Foi emocionante, porque na verdade isso faz bem pra gente. Eles transmitem pra nós uma sinceridade, uma verdade que enche o nosso coração. Cada movimento desses renova as nossas energias, o sentido da nossa passagem por aqui”.
E como o Fábio dormiu na noite seguinte, após ter resgatado o Alex das ruas?
“Eu dormi muito bem. Meu coração ficou radiante. Foi sensacional. Tô muito feliz”, concluiu.
Por Rinaldo de Oliveira, da redação do Só Notícia Boa